Batismo de Jesus por João, Pietro Perugino |
Aquela água
representava o batismo, que agora salva vocês. Esse batismo não é lavar a
sujeira do corpo, mas é o compromisso feito com Deus, o qual vem de uma
consciência limpa. Essa salvação vem por meio da ressurreição de Jesus Cristo. I Pedro 3.21
Não faz muito tempo fui alijado de uma reunião que tratava
de estratégias de evangelização em uma irmandade religiosa, tal como se
denominam, simplesmente por não ter sido batizado por imersão. Confesso que já
fui alijado por vários outros motivos de várias outras reuniões de cunho
religioso, mas desta vez doeu, porque não foi, como das outras tantas vezes,
por algo que tenha dito ou por me mostrado indevidamente favorável a uma
doutrina ou a um pensador.
Nunca iria imaginar que num tempo em que as igrejas estão
voltadas para o seu crescimento, que algo já não tão relevante nas diferenças
denominacionais, como a forma de batismo, pudesse ainda ser fator
discriminatório, ainda mais em uma reunião que visava angariar pessoas para o
Reino. Foi aí que me deparei com este enigmático texto da primeira carta de
Pedro, que trata especificamente da finalidade da água do batismo.
Argumentos em favor do batismo por aspersão nunca me
faltaram. Para mim, o mais impactante deles vem de John Wesley, quando diz que
se não precisamos nos encharcar de vinho e nem nos empanturrarmos de pão
durante a ceia para esta venha a ter validade. Portanto, não é a quantidade de
água que sustentará a eficácia de outro sacramento, no caso o batismo. Mas vejo
que aqui Pedro desça mais fundo nessa questão, tão fundo que chega ao quinto de
inferno para nos expor o seu pensamento.
Embora nunca tenha sido favorável a ideia de que o batizando
deve escolher a forma como que quer se batizado, pois deveria considerar a
prática comum na igreja da qual deseja ser membro, nunca considerei inválida ou
menos eficiente qualquer uma das duas outras formas que a igreja utiliza:
aspersão e derramamento. Para mim se alguém foi batizado em nome do Pai, do
Filho e do Espírito Santo sacramentou o seu batismo, não importando o local e
nem quem serviu de oficiante.
De volta ao enigmático texto de Pedro vou me atrever a fazer
algumas considerações.
Pedro vem falando sobre a descida de Jesus ao mundo dos
mortos antes da sua ressurreição. Segundo a teologia herdada dos Judaísmo, o
homem morre e vai para o Xeol, o mundo tenebroso dos mortos que ficava abaixo
do plano conhecido como terra dos viventes. Lá podem ser encontrados os
contemporâneos de Noé, a quem o patriarca anunciara a mensagem de Deus, mas que
não lhe deram ouvidos e por isso morreram. Porém, Noé e sua família ficaram a
salvo das águas, isto é o antítipo da imersão batismal, pois prefigura sim a
passagem deles pelas águas, mas por meio da arca. O dilúvio simboliza a economia
da antiga aliança, em que se exigia complicados rituais de purificação exterior.
Entrando agora no nosso texto base, verificamos que Pedro nega qualquer ligação do batismo com as parcas limitações banho físico que utilizamos
para eliminação da sujeira exterior acumulada. A eficácia do batismo,
independente da quantidade de água utilizada, se dá na regeneração total do
corpo e da alma, propiciando ao batizando abertura a uma nova consciência
voltada para Deus.
Deixando de lado o modismo gospel, daqueles que fazer
questão de serem batizados ou mesmo rebatizados por imersão nas águas, e de alguns
mais exacerbados que fazem questão de que o sacramento se dê nas águas do rio
Jordão, não encontrei nas Escrituras motivo algum para a exigência dessa
prática. Quero ressalvar, no entanto, a tradição da igreja. Esta sim deve ser o
parâmetro para que um tipo de batismo seja aplicado, e não porque seja mais
eficaz do que qualquer outro.
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