Os que sofrem por amor a Cristo III

A porta do Inferno por Auguste Rodin
A terceira é a revelação que encerra o salmo encontra-se no  versículo 11: O rei, porém, se alegra em Deus... pois tapará a boca dos que proferem mentiras. A palavra hebraica traduzida por rei pode significar sacerdote e também pode se referir a uma pessoa que está a serviço de Deus. Se o texto fala de um servo de Deus que proclama a verdade, seja ele rei ou não, não é difícil concluir que trata do confronto entre a verdade de Deus, e as “verdades” que sustentam a realidade adversa a ela. Podemos dizer que este texto leva a assinatura de todos os profetas e profetizas que, em nome de Deus, ousaram desafiar a realidade vil do seu tempo.
Então, onde existe um confronto entre a verdade de Deus e a realidade de um sistema iníquo, não há porque o servo de Deus fugir. Este salmo não é exatamente um salmo de socorro na hora da aflição, porque ele não oferece uma rota de fuga, pelo contrário, ele desafia ao salmista a lutar contra o inimigo. A alegria última do salmista deve ser pela vitória total, e não por uma fuga bem sucedida. A mensagem transmitida é a luta constante contra as realidades que desafiam a verdade de Deus, e que cada um a seu tempo precisa lutar contra a sua realidade até que a verdade de Deus prevaleça. É sobre esta intensa disputa entre a verdade de Deus e as “verdades” que estão sendo pregadas hoje, que eu gostaria de me restringir.
Alguns, não poucos, cristãos adotaram a terminologia Tá amarrado em nome de Jesus. Até hoje não sei de que texto bíblico esta expressão foi tirada. Mas se foi de Mateus 19, que diz que para se tomar os bens de um homem valente, é preciso antes amarra-lo, não vejo aí consistência que respalde afirmativa tão contundente. Porque, o que se pode concluir de fato é que podemos amarrar Satanás e as obras do mal apenas com palavras de ordem. Implicaria em acreditar que seria suficiente dizer “está amarrado em nome de Jesus” para a criminalidade, o tráfico de armas e drogas, os adultérios, e a violência em todos os níveis serem extintos, pelo menos no perímetro alcançado pelo som da nossa voz.
Isso também transfere para outro a culpa que é nossa. O diabo passa a ser o único culpado de todo mal que nós, seres humanos, praticamos. Em segundo lugar, transfere para Jesus a responsabilidade que também é nossa. Expulsar o mal do mundo é a primeira, senão a única tarefa, que aqueles que se dizem servos de Deus, são chamados a realizar. O “tá amarrado” quer tomar o lugar da indignação, do não conformismo, da ira contra o mal. O “tá amarrado” quer assumir o valor da pregação profética e da denúncia que a Bíblia faz contra a iniquidade. Seria como tentássemos substituir a profecia de Isaías, Jeremias, Ezequiel, Amós por um simples chavão. Por um jogo de palavras que não somente provocasse o mesmo efeito da profecia, mas que também nos livrasse das perseguições e angústias, que sofreram, não somente eles, mas todos aqueles que, em nome de Deus, incluindo o nosso salmista, levantaram as mãos. Para o bem da verdade, o único que tem que ser amarrado é a própria expressão “tá amarrado”. (anterior)

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