A porta do Inferno por Auguste Rodin |
Então, onde existe um confronto entre a verdade de Deus e a
realidade de um sistema iníquo, não há porque o servo de Deus fugir. Este salmo
não é exatamente um salmo de socorro na hora da aflição, porque ele não oferece
uma rota de fuga, pelo contrário, ele desafia ao salmista a lutar contra o
inimigo. A alegria última do salmista deve ser pela vitória total, e não por
uma fuga bem sucedida. A mensagem transmitida é a luta constante contra as realidades
que desafiam a verdade de Deus, e que cada um a seu tempo precisa lutar contra
a sua realidade até que a verdade de Deus prevaleça. É sobre esta intensa disputa
entre a verdade de Deus e as “verdades” que estão sendo pregadas hoje, que eu
gostaria de me restringir.
Alguns, não poucos, cristãos adotaram a terminologia Tá amarrado em nome de Jesus. Até hoje não
sei de que texto bíblico esta expressão foi tirada. Mas se foi de Mateus 19, que
diz que para se tomar os bens de um homem valente, é preciso antes amarra-lo, não
vejo aí consistência que respalde afirmativa tão contundente. Porque, o que se pode
concluir de fato é que podemos amarrar Satanás e as obras do mal apenas com
palavras de ordem. Implicaria em acreditar que seria suficiente dizer “está
amarrado em nome de Jesus” para a criminalidade, o tráfico de armas e drogas,
os adultérios, e a violência em todos os níveis serem extintos, pelo menos no
perímetro alcançado pelo som da nossa voz.
Isso também transfere para outro a culpa que é nossa. O
diabo passa a ser o único culpado de todo mal que nós, seres humanos,
praticamos. Em segundo lugar, transfere para Jesus a responsabilidade que
também é nossa. Expulsar o mal do mundo é a primeira, senão a única tarefa, que
aqueles que se dizem servos de Deus, são chamados a realizar. O “tá amarrado” quer
tomar o lugar da indignação, do não conformismo, da ira contra o mal. O “tá
amarrado” quer assumir o valor da pregação profética e da denúncia que a Bíblia
faz contra a iniquidade. Seria como tentássemos substituir a profecia de Isaías,
Jeremias, Ezequiel, Amós por um simples chavão. Por um jogo de palavras que não
somente provocasse o mesmo efeito da profecia, mas que também nos livrasse das
perseguições e angústias, que sofreram, não somente eles, mas todos aqueles que,
em nome de Deus, incluindo o nosso salmista, levantaram as mãos. Para o bem da
verdade, o único que tem que ser amarrado é a própria expressão “tá amarrado”. (anterior)
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