Apolo em Corinto, autor não identificado |
Alguém tenta fechar a porta, mas ninguém seria capaz de
conter a sua impetuosidade do vento. A investida empreendida pelo vento de Deus
é um desafio aos poderes políticos, ali representado pelos romanos, e
religiosos, por parte dos líderes judaicos, que estavam firmemente fincados, e a tudo que viesse perturbar aquela ordem seria de imediato aniquilado. O vento
veio para derrubar essa relação e nivelar a todos debaixo de um poder que
pretende estabelecer-se pela solidariedade, pela justiça e pelo amor. Por onde
passa o vento de Deus não subsistem barreias sociais, políticas e nem a força
das armas.
O vento atravessa o coração de pessoas de procedência, de
índoles e de propósitos essencialmente diferentes, fazendo com que todos falem
a mesma língua e tenham todos um só coração. Onde a diplomacia, a boa intenção,
a boa vontade dos homens com suas mirabolantes propostas de conciliação falham,
o coração transformado pelo vento de Deus fez toda a diferença.
Ainda podemos assinalar outra investida do vento de Deus.
Esta contra a relevância potencialidades individuais. É isto o que eu vou fazer, nos últimos dias — diz Deus: Derramarei o
meu Espírito sobre todas as pessoas. Os filhos e as filhas de vocês anunciarão
a minha mensagem; os moços terão visões, e os velhos sonharão. Sim, eu
derramarei o meu Espírito sobre os meus servos e as minhas servas, e
naqueles dias eles também anunciarão a minha mensagem (Atos 2.17-18). Velhos,
crianças, servos, livres, homens, mulheres, ou seja, a pluralidade na sua mais
expressiva forma. O vento investe contra a rigidez da doutrina, dos costumes, e
eu diria até contra certos tipos de moral, que mais revelam a nossa
intolerância do que o propósito de sermos fiéis a Deus. O vento veio para
revelar que quem gosta do uniforme é o outro. Quem gosta do coturno é o outro.
Quem gosta da padronização é o outro. Deus gosta mesmo da pluralidade das
formas, das cores e das experiências. Nela ele sopra onde quer e sobre quem
quiser. Ele vem de onde não esperamos e vai para onde jamais saberemos.
Em certas horas eu duvido que o evangelho é tão sutil quanto
se anuncia. Uma leitura que leva em conta um Deus que bate à nossa porta e
pacientemente aguarda ser convidado para entrar e agir em nossa vida. Ao
testemunhar tantos fatos que corroboram diretamente com a narrativa de Lucas,
sou impelido, quem sabe por este mesmo vento, a duvidar que seja sempre assim.
Tenho pra mim que se o vento de Deus vai bater suavemente ou arrombar a nossa
porta, vai depender apenas da porta que ele nos encontrar.
Leitura: Atos dos Apóstolos 2.1-13
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