Crianças participando da comunhão com Cristo, Orthodox Christian Parenting |
Há no Segundo Testamento diversos termos gregos para
exprimir esta noção:
Termos compostos com mégos
ou megís, pelo verbo metékhein e por palavras derivadas do
tema koinon. A variedade dessas
expressões, que correspondem a diferentes termos hebraicos nos deve prevenir
para não supormos logo um tema literário com determinado conteúdo teológico.
Aos termos com mégos
e megís corresponde o hebr. hêleq (sorte; herança; cf. Lc 15.12) e
suas derivações, significando geralmente a herança comum, a sorte comum que os
cristãos terão com Cristo no fim do mundo (Mt 24.51; Lc 10.42; Lc 12.46; Jo 13.8;
Cl 1.12; Ap 20.6; Sl 5.2); em II Co 6.15 a expressão é equivalente a koinonia e mégos, significando união, íntima relação, sobretudo na ação.
O verbo metékhein
guardou o seu sentido fundamental de participar (sobretudo: ter a sua parte de
alguma coisa: I Co 9.10-12; I Co 10.17.21.30; Hb 2.14; Hb 5.13; Hb 7.13 =
pertencer a uma tribo). O substantivo abstrato (II Co 6.14) é sinônimo koinonia e de mégos; significa, portanto, comunhão. O adjetivo, substantivado ou
não, corresponde ao hebraico heber e
significa companheiro de serviço (Lc 5.7), consorte (participando da realização
da mesma promessa: Ef 3.6), colaborador para o bem ou para o mal (Ef 5.7). Não
há nenhum motivo para dar a esse termo em Hebreus um sentido mais técnico,
filosófico; em Ef 1.9 significa: os seus semelhantes (os anjos, enquanto
pertencem à corte celestial; não os príncipes nem as criaturas em geral, nem os
cristãos); em Ef 3.1-14 indica o destino comum dos cristãos com Cristo no fim
do mundo; em Ef 6.4 tem o sentido original de ter a sua parte (no Espírito
comunicado); em Ef 12.18 refere-se à participação, i. é, submissão à mesma lei
geral da educação.
As derivações do tema koinon
apresentam a mesma variedade de sentidos e em muitos casos é dificílimo deduzir
do contexto o sentido exato, precisamente porque a palavra serve para exprimir
matizes bem diferentes. Em alguns textos podem-se constatar sem muita
contestação os mesmos conceitos como nas duas expressões já mencionadas:
comunidade de profissão ou serviço (Lc 5.10), de vida (entre o enxerto e a árvore:
Rm 11.17); participação na mesma natureza (II Pe 1.4, Hb 2.14), ação comum para
o bem (II Co 8.23), mas sobretudo para o mal (Mt 23.30; II Co 6.14; Ef 5.11; I Tm 5.22; II Jo 11; Ap 18.4; cf. Pv 28.24; Is 1.23). Alguns opinaram que esse
conceito ganhou em S. Paulo um conteúdo tipicamente religioso. Isso, porém, não
é verdade; essas palavras têm um conteúdo tão pouco definido, que S. Paulo,
afora algumas poucas exceções, sempre julga necessário determiná-lo mais. A
profundeza religiosa está nessa determinação. Os cristãos têm parte no
evangelho, sendo-lhe fiéis (Fp 1.5), têm parte no Espírito (II Co 13.13; não se
trata de uma união operada pelo Espírito), foram chamados para participar no destino
do Cristo glorificado (I Co 1.9; cf. I Ts 4.17) e nos bens da salvação
anunciados pelo evangelho (I Co 9.23), com a condição, no entanto que ao
ressuscitar, viver e reinar com Cristo na glória, preceda o sofrer, morrer e
ser sepultado com Ele (Rm 6.4-8; Rm 8.17; II Co 7.3; Ef 2.5; Cl 2.12; II Tm 2.12).
Sua participação na glória supõe, portanto, uma participação na paixão do
Senhor (Fp 3.10; I Pe 4.13; cf. II Co 15-7; Cl 1.24; I Pe 5.1). Em I Co 10.16-21,
onde a eucaristia é apresentada como uma refeição sacrifical e comparada com as
refeições sacrificais de gentios e judeus, koinon
significa também em primeiro lugar a participação: comendo o pão e bebendo do
cálice o cristão tem parte no Corpo sacrificado (I Co 11.4.27.29) e no Sangue
derramado de Cristo. Mas pela refeição sacrifical constitui-se uma união, seja
com os ídolos (I Co 4.21; cf. Os 4.17; Is 44.11), seja com “o altar”. Note-se
bem que S. Paulo, neste segundo caso, não diz “com Deus”, pois tal expressão
não condiria com a concepção judaica da transcendência divina. No entanto, a
comparação prova que S. Paulo pensava em uma união com Deus, exprimindo-a,
porém de modo indireto (união “com o altar”). Está claro também que não houve
aqui nenhuma influência do misticismo sacrifical do helenismo. A ideia da
comunhão dos fiéis, no v. 17, vem da consciência judaica do laço que une todos
os que se assentam na mesma mesa. Também em I Co 10, portanto, a noção de
participar não tem um conteúdo bem preciso. A fé comum (Fm 1.14-17) e a
participação nos mesmos bens da salvação constituem naturalmente entre os
cristãos um espírito de solidariedade (Fp 2.1) que se manifesta sobretudo na
comunicação de bens. Aos gentios-cristãos era dado participarem nos bens
espirituais da igreja-mãe de Jerusalém (Rm 15.27); de seu lado, deviam também
socorrer às necessidades deles (Rm 12.13; cf. Fp 4.14; Hb 10.33), comunicando-lhes
do seu (Gl 6.6; Hb 13.16). Assim koinon
foi tomando outro sentido, pois nestes últimos textos já não significa “tomar
parte em”, mas “comunicar a outros”. Essa virtude de repartir o seu com os
outros é praticada, Participação ex., na coleta em benefício de Jerusalém (II Co
8.4; II Co 9.13; cf. I Co 16; Gl 2.9). Em dois textos, apenas, koinonia usada sem complemento: Gl 2.9
(onde significa simplesmente acordo) e At 2.42-44, onde se refere à vida
comunitária, incluindo a comunhão de bens. Mesmo S. João, embora fale muitas vezes
na íntima comunhão de vida entre o fiel e Cristo e o Pai, só usa a palavra incidentalmente,
no exórdio de I Jo 1.3-6, e ainda com complemento.
Fonte: Dicionário Enciclopédico da Bíblia - A. Van Den Born
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