Universidade dos anjos,autor não identificado |
Ainda que mil pessoas
sejam mortas ao seu lado, e dez mil, ao seu redor, você não sofrerá nada.
Salmo 91.7
Sempre foi bem vinda a ideia de termos um Deus sempre de
prontidão, atento à nossa segurança e de olho nos inimigos e rechaçando
qualquer perigo à nossa volta. Fazemos questão de vê-lo como senhor do universo,
onipotente, que domine soberano sobre o macrocosmo, mas quando estamos doentes
queremos que ele deixe tudo e esteja ao nosso lado na cama. Talvez o motivo de hoje
pensarmos assim, mesmo aqueles que nunca foram católicos, seja a forte influencia
que a doutrina dos anjos da guarda pessoais tem exercido por séculos. Contudo,
no judaísmo antigo essa também era uma ideia pulsante, e é esse salmo que traz
consigo a essência da doutrina consagrada por São Tomás de Aquino. No versículo
onze ele diz: Deus mandará que os anjos
dele cuidem de você para protegê-lo aonde quer que você for (Sl 91.11).
Um tipo de proteção
individual e exclusiva que seria assegurada àqueles que, aos olhos de Deus,
seriam considerados justos, enquanto que aos demais, reconhecidamente ímpios caber-lhes-ia
apenas a ruína. Esta é uma doutrina consensual e que acomoda bem o pensamento
de muita gente, pois além de mostrar uma credulidade piedosa em Deus, ainda lhe
concede a ele a honra que lhe é devida. Praticamente todos os judeus que viviam
na época, ao lerem esse salmo, diziam a mesma coisa: essas promessas são pra mim. Até que surgissem os profetas escritores.
Homenzinhos estranhos, que através das suas mensagens radicalmente subversivas,
colocaram em cheque a justiça dos justos, a sinceridade das celebrações, a idoneidade
dos cultos e a piedade dos piedosos. Tais profetas vieram denunciar que não era
por causa da sua justiça que eles estavam gozando de boa situação, e que muito
menos isso era sinal da proteção divina, uma vez que aos olhos de Deus essa
justiça não existia. Sua prosperidade era resultado da exploração dos mais
fracos. Muitos passando muito mal, para que poucos vivessem tão bem.
Mas esses profetas faziam suas denúncias numa esfera
superior de poderes. Eles não iam para as periferias encher os ouvidos dos
pobres e sofridos. Eles iam para frente dos palácios, para os lugares onde
aconteciam as decisões, era ali que pregavam a sua mensagem. Ao que parece, não
é exatamente o que está acontecendo aqui. Não estamos pregando para líderes
políticos. Pouquíssimos de nós tem essa influência política ou esse poder de
decisão. Nós que pregamos do púlpito dificilmente falamos para gente desse
escalão. Nesse caso, deveríamos pensar se estamos fora das denúncias, se os
profetas não estão falando diretamente para a igreja de hoje, e se essas
promessas são mesmo para nós.
Leitura: Salmo 91
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