A rocha com um piscar de olhos por Ross Cochrane |
... e o que
ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será
desligado nos céus. Mateus16.19
Nas duas ocasiões em que Jesus tentou incutir a
responsabilidade sobre ligação entre os céus e a terra, falava exclusivamente à
igreja. Esta que, semelhante ao inferno, também tem portas que se abrem e se fecham.
Portas que permitem a ligação ou promovem o desligamento. Aí sim, entra a
responsabilidade individual. Somos nós como indivíduos que abrimos ou fechamos
as portas da igreja. Ela precisa estar aberta para que passe o miserável
pecador, mas precisa se fechar para que não passe o modelo de pessoa que eu
pretendo que meu irmão se transforme. É aqui que a Bíblia fala diretamente a
quem somente desliga, a quem somente fecha portas, a quem jamais perdoa.
Embora, à primeira vista possa parecer abuso de poder, a
decisão de ligar ou desligar pessoas tanto na terra quanto nos céus é um
processo que obrigatoriamente precisa tramitar por várias estâncias. Começa com
a aproximação pessoal, a tentativa de reconciliação do ofendido com o ofensor.
Para Jesus a busca e reconquista do extraviado é muito mais importante do que a
segurança do que permanece fiel. A parábola da ovelha perdida citada neste
texto deixa isso bem claro. Em segunda estância o motivo do possível desligamento
deve ser levado ao conhecimento de duas ou três testemunhas. Como última e
derradeira estância o caso deve se tornar público, para que deixe de ser uma
decisão pessoal e unilateral e retorne ao foro competente a quem Jesus
efetivamente legou tamanho poder: à igreja.
Ainda que destituídos do poder desligar, Jesus não nos
deixou livres da responsabilidade de tentar ligar, nem do bom encaminhamento
deste processo. Todo o processo de ligação começa conosco. Diria melhor, começa
em nós. Dizia Dom Helder: ninguém há de
querer subir sozinho ao altar de Deus.
Mas se há liberdade quanto ao processo de ligar ou desligar,
não se pode dizer o mesmo com respeito ao perdão. Quanto ao perdão Jesus nos
deixa duas escolhas, perdoar ou perdoar. O perdão pode não ser a única
alternativa do ofensor, mas, com certeza, é a única do ofendido.
Se ainda não nos apresentassem motivos suficientes para que consideremos a obrigatoriedade do perdão, o teólogo espanhol Antônio Pagola,
que está sob um absurdo processo impetrado pelo Vaticano, nos dá uma pista inquestionável, e
com ela eu encerro esta meditação: É
curioso observar como Jesus, quando fala constantemente do Reino de Deus, não
chama a Deus de “rei”, mas de “Pai”.
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