Cristo torturado (www.myloveisrael.com) |
No primeiro dos quatro cânticos dedicados ao servo sofredor
de Deus, Isaías faz uma apresentação muito sucinta do que realmente vem a ser
este servo e do seu propósito. Mas uma coisa fica clara de antemão: Isaías não
está falando de um servo qualquer, do tipo de pessoa que conhecemos bem. Aquele
tipo que arroga para si uma postura piedosa, no mau sentido da palavra, e
se anuncia como sendo apenas um humilde servo ou serva do Senhor.
Ele também não é apresentado como alguém que recebeu de Deus
um chamado para ser seu profeta. Todos os profetas negaram o seu chamado,
rebelaram-se contra Deus, acharam-se inadequados para a missão e tentaram
esquivar-se de todas as formas, apresentando todas as justificativas cabíveis e
imagináveis. Mesmo aqueles que a princípio, de forma corajosa, se apresentaram
solícitos, como fez o próprio Isaías através do seu conhecido chavão: eis-me aqui, envia-me a mim, ao se
inteirarem do peso e das consequências da missão, recuaram imediatamente: até quando Senhor.
A questão básica que não devemos omitir o fato de que os
capítulos de 40 a 55 do livro que leva o nome do profeta Isaías foi escrito
pelo que é conhecido pelos estudiosos como o dêutero Isaías ou segundo Isaías.
Aquele que prega para uma nação dividida, oprimida e sem quaisquer perspectivas
de liberdade dos calabouços do exílio babilônico. Povo para o qual a mínima
esperança de intervenção de um Messias salvador se fazia urgente. O povo judeu
todoque fazia para si repetidamente a mesma pergunta: Porque nós, que somos povo de Deus, chamados por ele, que clamamos pelo
seu Nome, estamos sofrendo todas essas aflições? Aqueles que eram a
terceira geração de exilados, que nunca tiveram qualquer participação ativa nas
iniquidades e injustiças que seus pais e avós cometeram, estavam questionando o
amor de Deus, e a aliança prometida por ele.
Quem conheceu a intervenção de Deus na escravidão egípcia
não poderia se surpreender caso este servo não fosse mais do que Moisés: um velho
gago e foragido. Muito embora ultrajado, o servo teria persistência para
resistir aos opositores: Aqui está o
meu servo, a quem eu fortaleço, o meu escolhido, que dá muita alegria ao meu
coração. Pus nele o meu Espírito, e ele anunciará a minha vontade a todos os
povos. Não gritará, não clamará, não fará discursos nas ruas. Não esmagará um
galho que está quebrado, nem apagará a luz que já está fraca. Com toda a
dedicação, ele anunciará a minha vontade. Não se cansará, nem desanimará, mas
continuará firme até que todos aceitem a minha vontade. As nações distantes
estão esperando para receber os seus ensinamentos (Is 42.1-4).
Não consigo distinguir nessas palavras qualquer referência a
um credo específico, nem qualquer ênfase sobre uma denominação, muito menos que
o seu foco esteja sobre qualquer religião. Onde muitos viam, e ainda veem o
demônio do ecumenismo, Francisco de Assis via a bênção do diálogo interreligioso.
O servo sofredor de Deus não pergunta qual era a religião dos magos, não
distingue os pastores pela sua condição social, não averigua o status celestial
dos anjos. Aquele que em torno de si há de reunir todas as religiões, todas as
classe sociais, todos os títulos religiosos, homens e anjos, reis e pastores,
pessoas e animais, céus e terra.
Leitura Is 42.1-9
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