Amaldiçoando a maldição

Balaão e o anjo, Crônicas de Nuremberg
As prescrições contidas na lei judaica registradas no livro do Levítico têm sido alvo de chacota promovida por sites ateu e agnósticos. Estão sempre batendo na tecla do apedrejamento de filhos e homossexuais e dos costumes tradicionais próprios do povo judeu que na sua estreita visão contextual não encontram sentido, como a restrição ao uso de vestimenta de dois tecidos diferentes. Mas eles não atentam para a praticidade e nem para o ineditismo de leis que são muito avançadas para o seu tempo, como a do consumo de carne suína. Dentre tantas, uma lei me chama atenção em especial: a proibição de amaldiçoar um deficiente auditivo. Por que essa preocupação em uma cultura em que o ato de amaldiçoar não tem as implicações que encontramos na cultura pagã? Ou seja, é sabido que a Bíblia tem por conceito tratar o assunto maldição objetivando sempre o amaldiçoador e nunca o amaldiçoado, porque ela sabe que é esse quem está sofrendo de fato. Esse é o grande amaldiçoado, por assim dizer. De alguma forma ela entende que é ele quem de fato está com o espírito dilacerado e com a alma em frangalhos. Hoje em dia quase ninguém amaldiçoa, mas xinga, fala mal, ofende, manda pro raio que o parta e até pra mais longe, mas amaldiçoar não está mais na moda. Quem quiser colocar as leis contidas na Bíblia sob suspeita que as coloque. Mas no momento do confronto do indivíduo com a dor contida na sua alma, essa pessoa vai descobrir que é ela quem está no lugar do surdo amaldiçoado, e aí, vai ter que admitir que aquele livro contem mais conhecimento do que todo o acervo jurídico do mundo civilizado, que ele legisla melhor do que juiz mais justo, que ela é mais sábia do que a mais proeminente filosofia de vida.

Leitura: Levítico 19.

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