Moisés fala a Israel,Henri Félix Emmanuel Philippoteaux |
Nome.
Quinto e último livro do Pentateuco (abrev. Dt). No cânon
hebraico o Dt é chamado pelas palavras iniciais 'êlleh haddebãrim (estas são as palavras) ou d'bãrim (palavras). LXX e Vg usam o termo Dt, que depois se tornou
comum na Igreja (Dt = repetição da lei ou segunda lei). Essa palavra
encontra-se na tradução (errônea) dos LXX em Dt 17.18, onde não se trata de uma
segunda lei, mas de uma cópia da única lei. O nome, no entanto, é exato,
enquanto o Dt, de fato, inculca novamente diversas leis mais antigas.
Origem.
Porque quase todo o Dt consta de discursos de Moisés, judeus
e cristãos pensaram por muitos séculos que esse foi também o autor do livro.
Que Moisés, então, teria descrito a sua própria morte, foi alegado desde cedo
como uma das primeiras dificuldades contra a origem mosaica do livro. A crítica
literária moderna acabou com a opinião antiga. Ao invés, o Dt foi relacionado
com a reforma do rei Josias, o qual se inspirou num “livro da lei” descoberto
no templo de Jerusalém por ocasião dos trabalhos de restauração (II Rs 22.8).
Aí os sacerdotes o teriam colocado pouco antes, na esperança de que assim o
livro fosse reconhecido como uma obra antiga e venerável e se efetuasse,
sobretudo a centralização de todo o culto em Jerusalém (Dt 12), tratar-se-ia do
Dt, pelo menos da parte central (caps. 5-28). Que o livro da lei encontrado no
templo sob o rei Josias foi realmente o núcleo do nosso Dt, admite-se hoje
geralmente. Contudo, foi também geralmente abandonada a tese de que teria sido
escrito pouco antes, sendo apresentado por uma pia fraus dos sacerdotes como um escrito antigo. O fato de que os
sacerdotes, segundo II Rs 23.9, se opuseram à aplicação de Dt 18,6, já toma
isso improvável. Aliás, nem as leis nem os discursos dos caps. 5-28 podem ser considerados
como uma unidade. É mais provável, pois, que a obra não tenha sido escrita de
uma vez, mas tenha crescido lentamente.
Há argumentos para colocar a sua origem no reino do norte:
os únicos lugares que desempenham algum papel (além da localização nas
planícies de Moab), são o Ebal e o Garizim (Dt 11.29; Dt 27.4-12). A atenção
especial dada aos levitas da província faz supor que também círculos levíticos
fora de Judá tiveram parte na formação do livro; o estilo do Dt apresenta
semelhanças com os círculos proféticos, eloístas do reino do norte. Por isso, a
origem pode ser procurada talvez nos círculos levíticos e proféticos em torno
de Elias e Eliseu que se empenharam pela pureza tão ameaçada da religião de
Israel. Cronologicamente, porém, o Dt deve ser posterior ao Eloísta e a Elias e
Eliseu, porque o estilo do Dt já assumiu formas muito mais fixas e estereotípicas
(século VIII?).
Em toda a sua atividade, os ditos círculos tiveram a
consciência de serem os continuadores da obra de Moisés: quiseram manter para o
seu próprio tempo, em toda a sua integridade e pureza, aquilo que ele havia
começado. Por isso julgaram-se com o direito de colocar as suas palavras na
boca de Moisés; continuando eles mesmos anônimos, alegam a autoridade dele. A esse
corpo do livro precede uma alocução de Moisés em que são lembradas a
organização do povo (Dt 1.9-18), a travessia do deserto (Dt 1.19-2-16) e a
conquista da Transjordânia (Dt 2.17-3.29). É provável que essa introdução, com
Dt 4, tenha servido para ajuntar o Dt à chamada historiografia deuteronomista.
Os últimos capítulos são, em parte, de origem igualmente deuteronomista, mas
contêm igualmente elementos da tradição sacerdotal. Essa última colocou o Dt no
lugar em que agora o possuímos, no fim do Pentateuco. (continua)
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