Movimento do Centro Acadêmico, foto Eduardo Abe |
No meio da semana que passou fui surpreendido por uma imagem
colocada no Facebook pelo Centro Acadêmico de uma universidade da igreja que se
anuncia na foto. Até então eu sabia o que as igrejas Vitória em Cristo e
Universal do Reino de Deus pensavam, porque sei exatamente o que o pensam os
seus proprietários, os donos dessas igrejas. No entanto, eu nunca imaginei uma
igreja tradicional, que sempre assumiu publicamente o senhorio de Cristo,
pensasse também de forma monolítica ou que acompanhasse a tendência política
dos seus líderes.
Para o bem da verdade, não posso admitir que seja esse o
pensamento da igreja, mas sim do Centro Acadêmico de uma das universidades
dessa igreja, que a meu ver agrava em muito a situação. Pois se uma casa que
prepara profissionais para desafiar o mundo em sua dinâmica perniciosa atual,
desde o seu nascedouro, já desfila com a bandeira de um partido político
definido, o que esperar do nosso futuro sob essa liderança?
Porém, quando vejo essa mesma tendência sendo reproduzidas
nas redes sociais por lideranças de várias igrejas, uma vez mais eu venho a
público declarar que a culpa desse erro de avaliação é exclusivamente nossa, de
nós mesmos. De todos os pastores que não temos apreciado suficientemente a
graça de Deus; que não temos pregado que o senhorio de Cristo abrange indiscriminadamente
todas as esferas da existência humana; que temos sucumbido à tentação de
pregarmos as ideias da nossa cabeça e os desejos dos nossos corações em vez de
pregarmos o evangelho. Nessa hora eu conclamo os vinte e um primeiros
versículos de Atos 4 para que sejam minhas testemunhas. Principalmente no que
diz respeito às palavras e à posição do apóstolo Pedro às investidas do poder
dominante em querer ditar qual deveria ser, ou melhor, qual não deveria ser o
conteúdo da sua pregação.
Nunca é demais investigarmos o contexto. O clima entra os
discípulos era de apreensão pela morte cruel e infame do seu mestre. Muitos
deles, pelo menos o grupo dos que permaneceram juntos, havia passado pela
experiência avassaladora do Pentecostes. Estavam ainda meio que atordoados porque
esta ainda não estava tão clara para a maioria. Logo em seguida, em apenas uma
pregação, Pedro havia elevado o número de fiéis a cinco mil pessoas, e
juntamente com João curou em nome de Jesus um paralítico de nascença que era
bastante conhecido por todos que frequentavam o templo. Por todos os ângulos
essa foi uma entrada espetacular, e que logicamente não passou despercebida da
liderança político-religiosa de Jerusalém. E é a partir dessas circunstâncias
que temos que avaliar, tanto a situação da igreja no primeiro século, quanto as
semelhanças com o momento político que vivemos hoje.
Para início de conversa, fica mais do que evidente que a censura
imposta a Pedro e João pela liderança judaica não era motivada por elementos de
cunho religioso. Versava exclusivamente sobre que autoridade Pedro estaria
pregando ou se dirigindo ao povo. Sabemos que qualquer menção que Pedro fizesse
ao nome de um Deus faria com que os sacerdotes do templo pensassem duas vezes
antes de recriminá-los, pois poderiam estar negando a validade de um culto
autorizado e incitado pelo Império Romano. Não se tratava também de uma
adulteração da forma de adoração hebraica tradicional, pois eles já conviviam
bem com muitas variantes dela. Havia entre eles os herodianos, que praticamente
negavam aspectos importantes da lei de Moisés; tinham os saduceus, que, além de
não crerem na ressurreição, negavam terminantemente qualquer intervenção
espiritual no mundo; tinham alguns judeus que faziam cultos particulares e
estranhos, como os que fizeram os galileus mortos por Pilatos narrado em Lc 13.
Ou seja, a única questão era definir sob que autoridade política eles estariam pregando.
Também não sou daqueles que admiram a corajosa resposta dos
apóstolos, não seria algo comum entre os comissionados por Deus. Para mim,
Pedro, ao ser proibido de pregar a mensagem de salvação em Cristo, responde aos
seus inquisidores algo parecido com todos os profetas que foram chamados por
Deus para desafios semelhantes: Bem que
nós queríamos, mas não podemos deixar de falar do que vimos e ouvimos. Obedecer aos homens pode ser atrativo, mas
obedecer a Deus é crucial. (continua)
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