Peshat, autor não identificado |
Os ritos de preparação celebração da Páscoa, tanto judaica
como a cristã, são tomados por um clima de apreensão que é propício para nos
trazer à lembrança dois implacáveis juízos que Deus exerceu na história da
humanidade. Um deles por Israel, o outro sobre Israel. E é de suma importância
que nos lembremos com frequência e exatidão dos motivos que ocasionaram cada um
deles, daí o mandamento rigoroso de Deus quanto à sua forma de celebração e do seu
conteúdo quanto à expectativa dos celebrantes.
Não pensem que estou me referindo aos autos que encenam à
Páscoa, que embora belos e artisticamente trabalhados, mais servem para o
exercício de uma piedade fora de hora e de contexto do que propriamente para a
mensagem que a passagem de Deus sobre a Terra quer nos fazer entender. Ou seja,
serve para que sintamos pena de Jesus e não para o que reflitamos no seu
sacrifício e no que este desafia a nossa vida, principalmente no aspecto
social, pois a Páscoa é uma celebração do povo.
Ainda esta semana, quando postei uma famosa frase de João
Calvino sobre o juízo que Deus estaria trazendo sobre o nosso país (link), surgiu um
rumor de que se o pensamento de Calvino fosse um fato, tanto o Brasil quanto às
demais nações estariam sobre o juízo Deus há muito tempo, o que não deixa de
ser verdade, mas não toda a verdade.
O juízo de Deus é exercido com frequência e pesa tanto sobre
a nossa consciência que nos sentimos constantemente em pecado e, em virtude
desse sentimento, estamos sempre em busca do seu perdão. Essa, segundo declarou
o próprio Jesus, é das funções suas atribuições principais: João 16.8 - Quando o Auxiliador vier, ele convencerá as
pessoas do mundo de que elas têm uma ideia errada a respeito do pecado e do que
é direito e justo e também do julgamento de Deus.
Contudo, o juízo a que se referem às celebrações distintas
da Páscoa não objetivam atingir estritamente a consciência individual e sim
coletiva. Não tratam do pecado pessoal e sim do mal institucional. Não tratam
das coisas que fazem mal aos nossos corações e sim das que tem oprimido sob o
tacão da injustiça os pequeninos do Senhor.
Trazer à lembrança aquela que foi uma fuga apressada e sem
muita preparação e nos lembrarmos de um corpo que foi moído e de um sangue que
foi derramado não pode significar outra coisa senão o alerta máximo para nos
preparar para o fato de que Deus está prestes a passar novamente. E não falo
aqui de segunda vinda não. Falo que iniquidades que, apesar de alarmantes e
visivelmente presentes estão escapando da nossa visão profética e do conteúdo
das nossas pregações.
Continuamos discutindo se é República ou Império; se é
Getúlio Vargas ou Carlos Lacerda; se é Jânio Quadros ou se é Henrique Teixeira
Lott, mas o âmago da questão continua intacto e prevalecente.
Se Deus está trazendo juízo sobre o reino da Dinamarca ou da
Suécia não eu não sei, mas eu canto com muito entusiasmo o hino que diz: Maravilhas grandiosas / outros povos têm /
bênçãos venham semelhantes / sobre nós também.
A Páscoa no adverte que o juízo de Deus é uma moeda de duas
faces. Serve para redimir quem está sendo oprimido, como foi o caso a
primeira Páscoa. Mas que serve também para punir os iníquos, sejam eles ativos,
passivos ou aqueles que possuem um grande potencial para exercer a iniquidade,
como os primogênitos do Egito.
Mais uma coisa a ser lembrada: o juízo não vem somente sobre
as pessoas, mas também sobre animais, sobre as instituições e mais ainda sobre
os falsos deuses da opressão. Não pensem que a igreja ficará incólume como mera
espectadora quando o juízo se concretizar. Disse Jesus: Quem não é a meu favor é contra mim; e quem não me ajuda a ajuntar está
espalhando (Mt 12.30).
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