Jesus e Pedro, autor não identificado |
A pergunta que atravessa sem perder força do Primeiro para o Segundo Testamento está relacionada diretamente com o amor do homem para com o seu Deus. Depois do salmo 23 e de mais alguns poucos versos o texto mais conhecido da Bíblia hebraica é sem dúvida o primeiro grande mandamento: Dt 6.5 - Portanto, amem o Senhor, nosso Deus, com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças.
No nosso texto base Jesus não somente reedita o mandamento,
como também o faz se aprofundar em um sentido muito mais objetivo, e, ao que
parece, induz a um crescimento na forma e nos meios de amar a Deus. Vamos
tentar ver como isso funciona.
O Deuteronômio incita ao amor com todas as capacidades e
sentimentos, no entanto, pelo menos para Lucas, ainda não é o bastante, por
isso ele faz um acréscimo ao texto do Primeiro Testamento: — “Ame o Senhor, seu Deus, com todo o coração, com toda a alma, com
todas as forças e com toda a mente. O acréscimo de amar com também com a
mente ou com entendimento, como dizem algumas traduções, é muito bem vindo.
Muito embora seja por conta do helenismo do qual este evangelista estava
impregnado, veio bem ao encontro do que Paulo propõe como elemento fundamental
no relacionamento com Deus: a razão. O culto racional, a busca por um melhor
entendimento da Palavra de Deus, o aprimoramento do discipulado também deve fazer
parte do conjunto de coisas a serem consideradas no amor e no serviço a Deus.
Mas parece que no diálogo com Simão Pedro à beira do mar da
Galileia Jesus acrescenta um dado a mais. Jesus não repete a Pedro a pergunta
que fizera ao doutor da lei que queria colocá-lo contra parede. Ele simplesmente
coloca Pedro entre a cruz e a espada quando pergunta: Tu me amas mais do que todos os outros? Jesus quer saber se o
coração de Pedro o ama mais do que o coração de todos os outros discípulos; se
a alma de Pedro está voltada para ele mais do que qualquer outra alma; se a força
do amor de Pedro excede a de todos os demais. Logicamente que não era para
estabelecer uma disputa entre os seus amigos mais íntimos, mas Jesus precisava
saber se Pedro estava determinado a ir mais longe no amor a Deus do que
qualquer outro antes dele. Era justamente sobre essa determinação que Jesus
queria fundamentar a sua igreja.
Tudo estava indicando que Jesus havia chegado ao extremo do
quanto se pode amar a Deus, mais ainda não. Amar com todas as forças poderia
ser uma propensão individual que não levava em conta o amor incondicional como
o amor que Deus nos ama. Por outro lado, amar mais do que alguém que não ama
tanto pode não se mostrar a forma com que Jesus veio reivindicar seu amor por
ele, e consequentemente pelo seu Pai. Mas é a terceira pergunta que Jesus faz a
Pedro que vai estabelecer o mais profundo aperfeiçoamento a que o texto do
Deuteronômio poderia ser submentido.
Por trás do olho no olho e da insistência em querer extrair
de Pedro uma confissão definitiva. A única condição que o credenciaria a tomar
conta do rebanho que Jesus veio reunir era saber se o amor de Pedro era
verdadeiro e não um impulso motivado por um momento de êxtase. Essa pergunta
veio a calhar porque, como sabemos, Pedro em um momento como esse já havia
jurado em vão esse amor: João 13.37 - Pedro
tornou a perguntar: — Senhor, por que eu não posso segui-lo agora? Eu estou
pronto para morrer pelo senhor!
E agora que ela chegou para nós? De juras de amor eterno,
fiel e inabalável o nosso repertório gospel está lotado, mas será que este amor
passaria pelo menos pelo primeiro estágio que a Bíblia propõe? Será, que como
os antigos judeus que se esforçavam para cumprir o mandamento temos empenhado
pelo menos um dos seus aspectos? Pelo que no que me é concernente mene mene tekel upharsim : pesado fui e fui
achado em falta.
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