Alegoria da pintura, Tojeti Virgilio |
O nome querubim vem do hebraico k'rüb, plural kerübim (Hb 9.5). A raiz krb não se encontra no Primeiro Testamento hebraico, mas é talvez o mesmo do verbo acádio karãbu (abençoar, nos dois sentidos em que também o verbo hebraico barak é usado, podendo Deus ser tanto sujeito como objeto da ação); k'rüb, então, corresponderia ao particípio acádio kãribu, que na Mesopotâmia indicava um deus de segunda categoria, intercessor junto aos deuses superiores em favor do homem.
No Primeiro Testamento, o termo encontra-se tanto no plural como no singular (o “querubim”); não é impossível que esse singular tenha sentido coletivo.
Natureza.
O Primeiro Testamento menciona querubins em diversas ocasiões. Em Gn 3.24 estão como guardas na entrada do paraíso fechado; compare-se o querubim que conforme Ez 28.14-16 está presente no Éden, o jardim dos deuses, donde expulsa o rei Tiro. Na descrição do tabernáculo e do templo de Salomão os querubins são duas imagens colocadas em cima da arca da aliança ou ao lado (Ex 25.18-22; Ex 37.8; Nm 7.89; I Rs 6.23-28; I Rs 8,6). Essas imagens têm uma só face, dirigida seja para o querubim oposto, seja para o santo (hêkãl). A figura do querubim serve também de motivo para decorações religiosas; está no tecido das cortinas e no véu do tabernáculo (Ex 26.1; Ex 26.31; Ex 6.8) e do templo (II Cr 3.14), ou esculpida em relevo no forro de madeira, nas paredes do templo de Salomão (I Rs 6.29) e nos batentes da porta (I Rs 6.23). No templo de Ezequiel 41.18 essas figuras têm duas faces, uma de homem e uma de leão Numa visão de Ezequiel 10 aparecem querubins com quatro faces. Aí eles carregam o trono em que a glória de Javé desce do céu à terra e depois volta. A esses querubins refere-se também a visão de Ezequiel 1, onde Ezequiel os chama de seres vivos; toda a imagem foi adotada em Ap 4.6-8 que fala em psoa; nesses, porem, há também elementos dos serafins de Isaías 6 e das rodas das mencionadas visões de Ezequiel. Tais concepções lembram fortemente as teofanias em que Javé é carregado pelo querubim ou pelos querubins (II Sm 22.11; Sl 18.11; Sl 104.3; Is 19.1), de sorte que ganhou o epíteto “Aquele que tem como trono os querubins" (I Sm 4.4; II Sm 6.2; II Rs 19.15; I Cr 13.6; Is 37.15; Sl 80.2; Sl 99.1).
Todas essas concepções têm um ponto em comum: onde há querubins, o divino está perto ou está presente; eles devem guardá-lo contra o contato profano. Originalmente, portanto, não são anjos (que são os enviados de Deus), mas desde os apocalipses judaicos foram equiparados aos anjos, figurando até como os anjos mais altos; a tradição cristã adotou esse modo de ver.
Ainda é completamente incerta onde está a origem da noção de Querubim. É natural, portanto, que se tenham procurado figuras paralelas na vizinhança de Israel. Alegam-se então as figuras legendárias da Mesopotâmia, conhecidas, sobretudo, por terem sido representadas como seres terríficos na entrada de templos e palácios assírios (lamassu, fem. lamastu; labmu); estão esculpidas também em relevos de marfim, encontrados em Samaria (século VIII aC). Alega-se ainda a figura já mencionada dos kãribu (fem. kãribatu), medianeiros subordenados cujo papel é recomendar os devotos aos deuses superiores. Mesmo se houve alguma relação entre os kãribu e os querubins bíblicos, sua natureza é diferente, pois os querubins da Bíblia não são medianeiros.
Material egípcio de comparação, sobretudo com os querubins da arca, são os gênios acocorados com asas estendidas, olhando-se mutuamente, encontrados no mausoléu de Seti I e as deusas, representadas da mesma maneira, que protegem o escrínio sagrado na barca dos deuses (fig. AOB 497). Na própria Palestina (cf. ANEP nº 492) há o homem-leão com asas, em relevos de marfim encontrados em Samaria (séc. VIII); a figura, apesar de motivos egípcios (hastes de loto) lembra imagens mesopotâmicas. Afinal há o conhecido homem-touro com asas, dos sepulcros régios de Jerusalém (séculos XI-X aC).
A questão é, entretanto, se essas figuras egípcias, que não parecem ser anteriores ao Novo Reino afinal não remontam também a representações mesopotâmicas. Todos esses dados juntos provam sem dúvida que os querubins do Primeiro Testamento têm sentido próprio; mas devemos contar com a possibilidade deles, em última análise, deverem a sua origem ao panteão da Mesopotâmia.
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