Fidelidade

As tentações de Jesus, Basílica de San Marco - Veneza
Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do rio Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto. Ali ele foi tentado pelo Diabo durante quarenta dias. Nesse tempo todo ele não comeu nada e depois sentiu fome. Lucas 4.1-13

Texto do padre José Antonio Pagola dando continuidade à meditação Lucidez de 14/02/2016.
  
Não foi fácil para Jesus manter-se fiel à missão recebida de seu Pai sem desviar-se de sua vontade. Os evangelhos recordam a sua luta interior e as provações que teve de superar, juntamente com seus discípulos, ao longo de sua vida.

Os mestres da Lei o assediavam com perguntas capciosas para submetê-lo à ordem estabelecida, esquecendo o Espírito, que o impulsionava a curar inclusive no sábado. Os fariseus lhe pediam para deixar de aliviar o sofrimento do povo e realizasse algo mais espetacular, «um sinal do céu», de proporções cósmicas, com o qual Deus lhe confirmasse diante de todos.

As tentações lhe vinham, inclusive, de seus discípulos mais queridos. Tiago e João lhe pediam que se esquecesse dos últimos e pensasse em reservar-lhes os lugares de mais honra e poder. Pedro repreende Jesus porque põe em risco a sua vida e pode terminar executado.

Sofria Jesus e sofriam também seus discípulos. Nada era fácil nem claro. Todos deveriam buscar a vontade do Pai superando provas e tentações de diversos tipos. Poucas horas antes de ser preso pelas forças de segurança do Templo, Jesus lhes disse assim: “Vós sois aqueles que perseveraram comigo em minhas provações” (Lucas 22.28).

O episódio conhecido como as “tentações de Jesus” é um relato no qual se reagrupam e resumem as tentações que Jesus teve de superar ao longo de sua vida. Mesmo vivendo movido pelo Espírito recebido no Jordão, nada lhe dispensa de sentir-se atraído para formas mais falsas de messianismo.

Há de pensar em seu próprio interesse ou escutar a vontade do Pai? Há de impor seu poder de Messias ou pôr-se a serviço daqueles que necessitam dele? Há de buscar sua própria glória ou manifestar a compaixão de Deus para os que sofrem? Há de evitar riscos e evitar a crucifixão ou entregar-se à sua missão confiando no Pai?

O relato das tentações de Jesus foi recolhido nos evangelho para alertar os seus seguidores. Temos de ser lúcidos. O Espírito de Jesus está vivo em sua Igreja, porém nós, os cristãos, não estamos a salvo de falsificar novamente a nossa identidade caindo em múltiplas tentações.

Para seguir Jesus com fidelidade, temos de identificar as tentações que os cristãos de hoje têm: a hierarquia e o povo; os dirigentes religiosos e os fiéis. Uma Igreja que não é consciente de suas tentações logo falsificará a sua identidade e sua missão. Não está nos acontecendo algo desse tipo? Não necessitamos de mais lucidez e vigilância para não cairmos na infidelidade?

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