O novo Arão e seus bezerros de ouro

Êxodo 32, Cosimo Rosselli
O povo viu que Moisés estava demorando muito para descer do monte. Então eles se reuniram em volta de Arão e lhe disseram: — Não sabemos o que aconteceu com Moisés, aquele homem que nos tirou do Egito. Portanto, faça para nós deuses que vão à nossa frente. Arão lhes disse: — Tirem os brincos de ouro que as suas mulheres, os seus filhos e as suas filhas estão usando e tragam para mim. Êxodo 32 1-2

Em uma narrativa de incrível modernidade o livro do Êxodo expõe de forma clara e objetiva a realidade das nossas igrejas em seus minuciosos detalhes. O episódio do bezerro de ouro construído pelos hebreus no deserto no início da peregrinação rumo à terra prometida é um poderoso alerta contra as práticas e costumes com que a nova geração de evangélicos tem desenvolvido nos seus cultos ao Deus todo poderoso.

Logo de saída percebemos a preocupação do povo com uma motivação totalmente equivocada. Apesar de não lhes faltar a informação de quem foi o verdadeiro libertador da escravidão egípcia, o povo ainda se recente da ausência da pessoa que é igual a eles, e cujo mérito foi tão somente ser um diligente instrumento nas mãos de Deus. Logo de saída percebemos a transposição do foco do criador para a criatura: Não sabemos o que aconteceu com Moisés, aquele homem que nos tirou do Egito.

Assim como nas religiões de mistério e no ateísmo, as pessoas carecem de uma prova ou de algo visível para sedimentar as suas proposições de vida e a projeção de um breve futuro. Não foi diferente com os hebreus libertos do Egito. Eles estavam muito acostumados com a religião que primava pelo palpável e pelo visível. Todas as construções daquele país tinham como propósito dignificar a figura do seu deus na Terra, o faraó. Nem mesmo o mundo dos mortos lhes era oculto. Ele se fazia presente por meio da mumificação dos defuntos.  

A fé incipiente ou a fé projetada em instrumentos enganosos provoca esse tipo de sentimento, uma sensação de abandono quando da ausência de algum sinal ou prodígio se estende por um período maior do que o costumeiro. É completamente diferente do sentimento que os discípulos de Jesus têm do seu Mestre. Os hinos antigos eram cantados com expressões de saudade, uma saudade descrita pelo reverendo Ruben Alves como algo que mora entre o amor e a ausência. Não é nunca para nos sentirmos abandonados ou carentes de manifestações sobrenaturais.

Da linda pátria estou mui longe; / Cansado estou. / Eu tenho de Jesus saudade; / Quando será que vou?
Passarinhos, belas flores / Querem‐me encantar. / Adeus terrestres esplendores! / Eu já enxergo o lar. 



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