Adoração do bezerro de ouro, Herrad of Landsberg |
O descontrole gerado por um líder religioso sem compromisso com a sua missão e sem responsabilidade para com os seus atos é algo que conhecemos bem em nossos dias. Mas não conhecíamos ainda quem foi a promover semelhante lambança. Não precisamos ir longe. ei-lo aí, a própria Bíblia o expõe por inteiro: Moisés viu que Arão havia deixado o povo completamente sem controle.
Contudo, para Arão não bastou apenas ser o idealizador e realizador da grande heresia em um dos primeiros cultos a Deus. Ato contínuo, ele tinha que ser também o pai das desculpas esfarrapadas. Sigam comigo a rota da canalhice.
Quando interpelado por Moisés, a primeira coisa que Arão faz é se isentar da culpa e atribuir todo o erro ao povo: Não fique com raiva de mim. Você sabe como este povo está sempre pronto para fazer o mal. Ou seja, Arão era um sacerdote sério, o povo é que não estava a altura do seu ministério. Vocês já se deram conda de qual seria o reflexo mais imediato dessa prática nas igrejas de hoje? Pastores, bispos e apóstolos que se colocam acima do bem e do mal. E a consequência também imediata é o agravamento da situação em que se encontra aquele que busca a igreja atraído tão somente por uma promessa de cura, seja ela financeira ou física. A cura moral e a espiritual nunca são cogitadas nessas circunstâncias. É justamente nessa hora em que esses pastores se travestem de Arão e dizem ao povo: vocês não foram curados porque não têm fé. Exatamente como fizeram os sacerdotes do templo na época de Jesus: Quanto a essa plebe, que nada sabe da lei, é maldita... (João 7.48-49)
Mas a lambança não parou por aí. Ainda prevalece o fato de Arão ter cedido à pressão do povo. Não é simplesmente permitir que o povo adore a Deus como melhor lhe apetece, e sim lidera-los para fazer somente aquilo que o povo quer que seja feito, e se propor a dizer somente aquilo que o povo quer ouvir é um dos absurdos mais presentes nos cultos de hoje. Sob a premissa de encher a igreja e pregar algo parecido com o evangelho para o maior número possível de pessoas, vale fazer qualquer coisa. Desde que o povo concorra com recursos financeiros para tal. Não vamos falar de confissão de pecados, porque o povo não gosta. Não vamos contar certas histórias da Bíblia, porque pode traumatizar as crianças. Não vamos falar sobre corrupção, fraude e adultério, caso contrário o povo não comparece com dízimos e ofertas.
Mas nenhuma dessas é capaz de fazer sequer uma pequena sombra sobre a canalhice mor. A terceira desculpa de Arão é de um descalabro sem precedentes: Joguei aqueles enfeites no fogo, e saiu este bezerro! Simples assim. Agora tem uma coisa: não sei como esse bezerro veio parar aí; não faço a menor ideia de quem foi que abriu uma conta em meu nome num banco da Suíça e colocou nela cinco milhões de dólares; não, esse jatinho não é luxo, é apenas um meio de pregar o evangelho para pessoas que estão mais distantes. Como se pode ver, antecedentes não têm, no entanto, os descendentes são abundantes.
Ainda bem que eu disse na primeira parte dessa meditação que esta era uma narrativa de incrível modernidade. É uma pena que eu não tenha sido capaz de esmiuçá-lo em toda a sua inteireza. Espero que Deus complete em vocês essa minha falha. Por ora, vou continuar escrevendo e falhando enquanto Deus me conceder esse privilégio, porque poder ver alguma mudança nesta vida, já não tenho mais qualquer esperança.
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