Abominação da Desolação, Giovanni Benedetto |
Primeiro Testamento.
Na vulgata ábominatio desolationis é a tradução de do hebraico siqqus sõmêm em Dn 9.27; 11.31; 12.11. Dn 11.31 descreve, em termos misteriosos, a profanação do templo de Jerusalém por Antíoco IV Epífanes em 167 aC. Uma fase dessa profanação é a introdução da Abominação da Desolação no Templo de Jerusalém.
Sobre o mesmo acontecimento fala 12.11 e provavelmente também 9.27. II Macabeus 6.2 fala mais claro, dizendo que Antíoco quis que o templo fosse dedicado a Zeus Olympios. Conforme I Mac 1.54,59 um novo altar foi colocado em cima do altar dos holocaustos de Javé, no dia 8 de dezembro de 167, e dez dias mais tarde o culto pagão foi inaugurado. I Mac 1.54 qualifica esse altar como Abominação da Desolação, sem dúvida sob influência de Daniel. Baseando-se no fato de que Baal Samém (Senhor do céu) é o equivalente aramaico de Zeus Oympios.
E. Nestle explicou siqqus sõmêm como a deformação de propósito desonrosa do nome deste deus. O elemento ba'al (Senhor) foi substituído por siqqus (abominação), palavra essa com que os judeus gostavam de indicar falsos deuses, ídolos, ou símbolos e emblemas pagãos; sãmém (céu) foi mudado em sõmêm (Dn 12.11) porque lhe deram as vogais de bõsêt (vergonha). Nesta combinação sõmêm, forma abreviada de mcsõmOm, que pode significar “estar desolado, deserto”, mas também “estar apavorado, estremecer” (Dn 9.27; 11.31) significa provavelmente “pavoroso”; os tradutores gregos, porém, preferiram o primeiro sentido, traduzindo a palavra por “desolação”. Portanto, em Daniel e Macabeis a Abominação da Desolação significa um altar ou outro objeto cultual consagrado a Baal Samém.
Segundo Testamento.
Conforme o costume, naquele tempo muito usado de atualizar as profecias antigas e aplicá-las aos acontecimentos contemporâneos, o apocalipse sinótico (Parusia). Mt 24.15 e Mc 13.14 relaciona a Abominação da Desolação com a futura destruição de Jerusalém e o fim do mundo. E com razão! Pois segundo Daniel a profanação do templo por Antíoco IV é um acontecimento com significado escatológico. No entanto, esta aplicação do termo Abominação da Desolação fora do contexto original prova também que perdera a sua significação concreta para adquirir uma noção apocalíptica.
O fato de Mc em 13.14 (como também alguns manuscritos de Mateus) combinar o neutro singular pôéxvyna (abominação) com a forma masculina do particípio ècrrrpcóta (estando) parece indicar que Marcos pensava numa pessoa. Isso legitima uma comparação com II Ts 2.3, onde parece não se tratar de outra coisa, senão da profanação do “templo de Deus” em Jerusalém. Profanação que no pensamento de S. Paulo coincide com a atividade blasfemadora do Anticristo e com a Parusia de Cristo. As explicações desta passagem, que partem do fato de à profanação de Jerusalém não ter seguido o fim do mundo, e que por isso tomam essa profanação em sentido simbólico (heresias, etc.), são interpretações ex eventu, porque não levam em consideração o ponto de vista dos autores anteriores ao ano 70 dC. Para esses a Abominação da Desolação e as manifestações do Anticristo sem dúvida estavam intimamente ligadas entre si. Se em Mateus e Marcos a Abominação da Desolação é o sinal para que os fiéis saiam de Jerusalém e da Judeia, isso é para que não fiquem envolvidos e prejudicados no juízo aniquilador sobre o Anticristo, triunfante na cidade santa (II Ts 2.8), mas possam viver até testemunharem a Parusia.
Não sabemos com certeza em que os cristãos entre 66 e 70 viram encarnada concretamente a Abominação da Desolação. Foi a vinda do exército romano com os seus estandartes, ou foram as carnificinas dos zelotes no templo? Quando a destruição de Jerusalém já pertencia ao passado, a Abominação da Desolação apocalíptica do apocalipse sinótico foi substituída por um fato concreto, histórico (Lc 21.20). Tornara-se claro, também, que essa destruição não estava em relação histórica com o fim do mundo, mas dele se separava pelos “tempos dos gentios” (Lc 21.14). Isso, porém, não quer dizer que no apocalipse sinótico a Abominação da Desolação fora originariamente apresentada como um fato puramente histórico; é a perspectiva apocalíptico-profética que faz coincidir a profanação do templo com a atividade blasfema do Anticristo, no fim dos tempos.
Fonte: Dicionário Enciclopédico da Bíblia. A. Van Den Born
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