Pregador itinerante, William Koerner |
Eu penso que poderíamos dividir em quatro eras distintas o ministério dos vocacionados por Deus ao longo da história da salvação. Penso também que o elemento decisivo para essa escolha não poderia ser outro, senão o referencial que estabelece os limites da equação proposta pelo título desta postagem.
Seria chover no molhado argumentar quer os profetas bíblicos foram os seres humanos que tiveram as suas vidas o mais próximo de um relacionamento estreito com Deus e da sua vontade. Não foi por um motivo qualquer que suas profecias permaneceram irretocáveis e atravessaram incólumes o crivo de várias tradições orais e inúmeras compilações, mesmo que alguns deles usassem e abusassem de termos chulos, que consideraríamos inadequado ao texto que chamamos de sagrado. Sua mensagem profética é de estarrecedora precisão, tanto contextual do seu tempo quanto a qualquer situação ou época, e a veemência de suas palavras abalaram a segurança dos mais poderosos impérios, assim como tiravam o sono dos maiores tiranos.
Como bem relata a Carta aos Hebreus: Alguns foram insultados e surrados; e outros, acorrentados e jogados na cadeia. Outros foram mortos a pedradas; outros, serrados pelo meio; e outros, mortos à espada. Andaram de um lado para outro vestidos de peles de ovelhas e de cabras; eram pobres, perseguidos e maltratados. Andaram como refugiados pelos desertos e montes, vivendo em cavernas e em buracos na terra. O mundo não era digno deles!
Mas ouve um outro tempo, esse já na Era Cristã, em que os servos de Deus se desligavam de suas vidas, algumas até bem abastadas, e de seus encargos cotidianos, para viver a plenitude do evangelho entre os pobres e necessitados. Esses, que hoje muito corretamente chamamos de santos e que se revoltariam ferozmente contra as suas canonizações, são celebrados e homenageados no nosso tempo, porém, no tempo deles foram também marginalizados e perseguidos por causa de sua mensagem e prática. Seu caráter santo e sua disponibilidade para o serviço eram apreciados por muito poucos, nem mesmo a igreja a qual serviam lhes concedeu algum mérito em vida.
Temos que considerar também os pastores da reforma. Homens que levaram uma vida de privações e sacrifícios em obediência ao chamado do evangelho. Até meados do século passado era muito difícil encontrar um pastor que recebesse de subsídio igual ou maior que a média dos salários dos membros de sua congregação. Muitos com formação acadêmica superior e que teriam sucesso garantido se tivessem abraçado outras profissões. Esses, pela escolha pessoal, condenaram suas mulheres e filhos a uma vida espartana de pouquíssimos recursos, e nem sequer de santos são chamados, jazem completamente esquecidos nos porões da história da igreja. Eles concluíram, para a nossa felicidade, que o seu amor a Deus e à igreja valia arriscar todo o resto, e foram fiéis em sua carência.
Se aos profetas do Primeiro Testamento não damos o mesmo reconhecimento dos santos; se aos santos não é recomendada a adoração, mesmo que muitos deles tivessem atuações digna da honra que o autor da Carta aos Hebreus confere aos profetas; se já nos esquecemos dos heróis que nos legaram, além da fé, as monumentais igrejas das quais hoje somos membros, que podemos concluir a respeito das abusivas declarações de amor dirigidas aos pastores e da plena submissão aos mandamentos dos bispos, apóstolos e missionários que se proliferam em nosso país?
Em uma rápida e superficial avaliação, embora muitos vão dizer que é julgamento, nós hoje não temos como estabelecer qualquer parâmetro de fidelidade com as eras passadas. Muito embora, à vista do presente século, a muitos dos pastores atuais se credita uma unção especial e uma distinta aproximação com Deus, a igreja a sua volta não se beneficia de nada parecido com que os antigos servos de Deus legaram à história da salvação. A nossa época vai passar para a História como a era das igrejas pobres e dos pastores ricos.
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