Texto do rev. Jonas Rezende.
Acredito que, para escrever seu livro O Pêndulo de Foucault, Umberto Eco teve de fazer cuidadosa pesquisa sobre as inúmeras vertentes do ocultismo e práticas esotéricas. Nomes, lugares e fatos históricos são mencionados para aclimatar uma novela de mistério e suspense, como já tinha acontecido com seu magnífico trabalho anterior, O Nome da Rosa.
Entre tantas explicações elaboradas do Universo, que o romance de Umberto Eco faz desfilar para o leitor, foi muito confortante, para mim, entrar em contato com o pensamento simples e direto do personagem chamado Lia. Para ela, muitos fatos realmente valiosos estão aquém das especulações sofisticadas: o amor, o luar, a beleza desafiadora da vida cotidiana. Lia possui esta sabedoria dos simples de que nos fala Davi no seu Salmo. Penso que, para ela, certamente é mais importante a vida depois do nascimento do que as experiências além-túmulo...
É fácil entender, então, por que Jesus coloca no meio dos adultos uma simples criança e afirma que é preciso ser como ela para entrar no reino dos Céus. Isto é, precisamos ver o mundo com olhos mais puros e menos interesseiros, valorizar os pequeninos fatos, não levar tão a sério nossa pose, brincar com a própria máscara que a sociedade termina por nos impor, ter um pouco mais de bom humor na vida.
No filme A Última Tentação de Cristo, de Martin Scorsese, baseado no livro do grego Nikos Kazantzakis, há uma oração de Jesus que eu não teria qualquer escrúpulo de colocar também na minha Bíblia. Cercado pela paz do deserto, que se unia, durante a noite, ao céu inflacionado de estrelas, Cristo fala com seu Pai em oração; abre o coração, coração puro e simples, como o de uma criança. E diz mais ou menos o seguinte:
Eu nem sei, meu pai, se o outro mundo é mais belo do que este...
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