O que é um SALMO IMPRECATÓRIO?

Josué e os amalequitas, Paul Copan e Matthew Flanagan
Salmos imprecatórios são preces em que o salmista pronuncia sua maldição sobre os inimigos de Israel (Sl 79.6,12; 83.10-19) ou sobre adversários ou perseguidores pessoais (Sl 5.11; 6.11).

Para se compreenderem essas preces, que tão longe estão da doutrina e do exemplo de Jesus (Mt 5.39.44; 6.14), é preciso observar:
1- a que a revelação do Primeiro Testamento foi a preparação do Segundo Testamento, e por conseguinte imperfeita;
2- que a maldição, no Oriente antigo e entre os israelitas, era uma arma defensiva perfeitamente legítima;
3- que a linguagem dos orientais é mais apaixonada do que a nossa.

Como revelação preparatória, o Primeiro Testamento é necessariamente imperfeito em alguns pontos; os preceitos morais deviam levar em conta a mentalidade dos israelitas. Entre essas imperfeições Jesus coloca a lei do talião “olho por olho, dente por dente” e o ódio ao inimigo (Mt 5.43). Era proibido odiar os patrícios (Lv 19.17; Ex 23.4; Pv 25.21; Jó 31.29), mas, por outro lado, bastante comum, sendo considerado a atitude mais natural para com os inimigos (II Sm 19.6s; Sl 131.21). A exigência de Jesus (Mt 5.44) foi realmente um mandamento novo (Jo 13.34), que corrigiu a lei antiga. Portanto, não podemos julgar a atitude dos israelitas, nem dos devotos adoradores de Javé, pela norma da perfeição evangélica.

A maldição era a defesa normal dos israelitas, sobretudo daqueles que não dispunham de outros meios para se defender. O próprio Javé ameaçava com a sua maldição a quem transgredisse a sua lei (Dt 27.15-26) e a quem amaldiçoasse os seus protegidos (Gn 12.3). Ele mesmo, portanto, aplicava também a lei do talião (Gn 12.3; Dt 32.21; Jr 5.19), para provar a sua justiça. 

Quando o piedoso israelita pronunciava a sua maldição sobre adversários e perseguidores, ele julgava se basear no poder e na justiça de seu Deus, e estava convencido de promover, pelas suas imprecações, a punição dos criminosos e a restauração do direito. Isso lhe parecia tanto mais necessário, porque não conhecia outra retribuição nesta vida e porque considerava os opressores de seu povo e seus inimigos pessoais como os inimigos do próprio Javé (Sl 74.23; 83.6; 139.21).

O temperamento fogoso, a viva imaginação e o rico vocabulário dos orientais explicam as expressões apaixonadas com que a malícia dos adversários geralmente é descrita. Sua boca é cheia de fraude e violência (Sl 10.7; 59.13), sua língua é aguda como a das serpentes (Sl 140.4); atiram flechas (Sl 11.2; 37.14), armam redes (Sl 35.7; 57.7) e cavam um fosso (Sl 7.16; 35.8) para as suas vítimas. Essas expressões poderiam referir-se aos meios mágicos de que os maus se serviam para afrontar os piedosos, mas, com mais possibilidade de serem linguagem figurada que descreve de modo concreto suas falsas acusações e atentado, como muitas outras imagens, inspiradas pela guerra e pela caça e descrevem os adversários como leões que espreitam (Sl 10.9; 22.14) ou como touros e búfalos ameaçadores (Sl 22.13).

Da mesma maneira devemos julgar também a torrente de imprecações em alguns salmos; como provam também muitos paralelos babilônicos, isso é perfeitamente de acordo com o temperamento oriental, tratando-se apenas de variações sobre o único tema, "Deus castigue seu adversário injusto". Algumas imprecações, talvez, nem devam ser tomadas a sério, porque são contraditórias (Sl 109.8 e 18s; Sl 59.12 e 14). Alguns exegetas concluem tratar-se de fórmulas estereotípicas ou tiradas do contexto mágico, em que o poeta exprime o seu desejo de libertação e de ver restabelecido o direito. As tentativas de outros exegetas para colocar as maldições na boca dos inimigos do salmista não convencem e violentam o texto. Aliás, os salmistas nunca teriam tido a coragem de repetir maldições proferidas contra si próprios, renovando-lhes assim a força.

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