De Micas ao mico

Saque ao templo de Micas, autor não identificado
Nesse tempo não havia rei em Israel, e cada qual fazia o que lhe parecia correto. Juízes 17.6

Este refrão que acompanha todo o livro de Juízes nos relata com exatidão as consequências que decorrem dos cultos que são prestados a Deus indevidamente pelo seu povo. Isso se deu tanto pela falta de governo, quantos pelas decisões particulares, onde cada um fazia o que achava correto.

O capítulo 17 de Juízes traz um relato que pode contextualizar todo o livro, bem como nos dar detalhes e requintes das heresias que são praticadas em nome do consenso, da espiritualidade individual e da utilidade prática. A saga de Mica de Efraim é tão atual que mais parece uma leitura extraída do jornal de ontem, apenas com uma sutil diferença: o relato de Micas na Bíblia é único, enquanto que os seus paralelos entre nós se multiplicam e cada vez mais aperfeiçoam a sua bizarrice.

Tudo começa quando Mica consegue um dinheiro de forma ilícita e resolve fazer um templo exclusivo para si. Não um templo a um deus qualquer, mas dedicado a Iahweh, Deus de Israel. Sua primeira decisão é equipar o templo com um ícone novo e diferente. Um símbolo que expressasse toda a sua liberdade de inovação e criação. Não havia rei em Israel, então tudo era válido.

Sua segunda e brilhante decisão foi investir um dos seus filhos como sacerdote do templo. A coisa toda teria que ficar na família. É mais do que evidente que novo império estabelecido teria forçosamente que permanecer entre os seus descendentes. Não muito diferente do que se faz hoje em dia. Mas parece que este bom filho não herdara a sagacidade do seu pai, e coisa não ia muito bem, até que se deslumbrou uma alternativa: um levita que perambulava em busca de cidade em cidade em busca de uma “boquinha” para se estabelecer passou justamente por ali, e Mica o consagrou sacerdote supremo, bispo primaz, apóstolo e outros predicados superlativos.

Mas esperem, ele era apenas um levita. Alguém designado a servir no tempo de todas as formas, mas não dirigi-lo. Isso era incumbência de exclusiva de pessoas que tinham linhagem e escola sacerdotal. O que importa? Ele era o mais disponível num raio de quilômetros. Então, combinaram uma grana e tudo ficou acertado. Afinal: não tem tu, vai tu mesmo. Não me espantaria se me dissessem que é daí que vem este ditado.

As tantas semelhanças que já vimos já nos acomodariam bem no nosso século, mas elas não pararam aí. Um grupo grande passou pela região e confiscou as imagens, os utensilio, e de quebra o Sumo Sacerdote de Micas. Este, relutante, ainda contestou: Ele me empregou aqui, e eu lhe sirvo de sacerdote. Reparem agora no magnífico desfecho. O chefe do grupo justificou o confisco, dizendo: Vale mais para ti seres sacerdote da casa de um homem do que sacerdote de uma tribo e de um clã de Israel? Isso é lá pergunta que se faça?

Não preciso dizer que o sacerdote abençoou todos os desígnios da tribo, e esta seguiu seu curso como se tudo estivesse bem.


Não tenho uma palavra final para o que foi descrito. Assim como não vejo exemplos mais claros do que acontece hoje em dia. Só queria ressaltar uma única coisa: não havia rei em Israel. Minha avó dizia: quando o gato não está o rato sobe na mesa.

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