Celebração, John Swanson |
Uma das modernidades mais bem vindas foi a revolucionária
ideia do elevador panorâmico. É muito bom ter algo para onde olhar quando se
anda de elevador. A vista do exterior é sempre mais agradável do que a das frias
paredes. Mas mesmo pensando assim, me rendi ao conceito de um shopping Center em
São Paulo, que se atreveu a colocar seu elevador panorâmico voltado para o seu
interior, revelando a sua beleza apenas às pessoas que nele transitam. E eu vi
nisso um aspecto tão interessante quanto único da fé cristã.
Na desafiadora pergunta de Judas, em João 14.22, podemos
conhecer toda a estranheza de como esta situação se apresentava para os
discípulos: Senhor, como será possível
que o senhor mostre somente a nós e não ao mundo quem o senhor é? Até Judas
percebeu o quanto uma revelação mais abrangente facilitaria a pregação do evangelho,
caso Jesus se dispusesse a mostrar do que era capaz a todas as pessoas,
inclusive aos sacerdotes, escribas e fariseus. Quanto confronto teria evitado?
Quantas dúvidas teria esclarecido? Quantos adeptos a mais teria granjeado? Para
instigar mais ainda a situação, Jesus usou justamente a não tão vitoriosa campanha
evangelística dos setenta para fazer esta revelação, e o fez em uma oração de
franco agradecimento: Graças te dou, ó
Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e
instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu
agrado.
Quando digo que não foi tão vitoriosa, falo baseado no fato
de o próprio Jesus ter antecipado alguns insucessos, levando em conta as
cidades que não os haveriam de recebê-los. Jesus lhes disse para não se
intimidarem diante delas, que eles deveriam seguir em frente e também sacudir a
poeira de suas sandálias antes de deixá-las para trás.
Não é de se admirar que os setenta, ao voltarem, fossem
correndo contar a Jesus que viram algo que nem eles aquele tempo todo andando com
Jesus tinham visto antes. Eles foram os primeiros que conseguiram enxergar o
processo da evangelização pelo lado de dentro: o lado do ide. Não o evangelho
das redes de televisão, dos mausoléus que se dizem igrejas, dos folhetos
passados de mão em mão, ou do que promete mundos e fundos. Eles conheceram o evangelho
pelo lado do compromisso, da compaixão e da solidariedade de estar lado a lado com
o pecador que sofre. Quando até os demônios se submentem à simples menção do
nome de Jesus. Eles viram o que Deus só revela somente aos que creem e investem
tudo nessa fé.
Mais depois de tudo isso dito, a pergunta ainda insiste em
prevalecer: mas por quê? Jesus a responde, ainda que não completamente, mas agora
não mais pela boca de João ou de Lucas, mas Mateus: Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado. Jesus revela a
satisfação de Deus em que os seus pequeninos tenham mais conhecimento dele do
que as pessoas cultas e letradas. Deus prefere que as suas manifestações sejam
mais propriamente conhecidas por aqueles a quem o mundo não dá muito crédito.
Tenho sempre que me lembrar do quanto meu ministério foi
enriquecido por testemunhos de pessoas tão pouco esclarecidas, e que mal sabiam
se pronunciar. O quanto a minha soberba foi humilhada pelos pequeninos de Deus
em situações que eu pensava estar sob o meu total controle. Nota-se claramente
aqui que eu não fiz o dever de casa. Nota-se claramente aqui que eu não dei a
devida atenção à voz do salmista, que desde um passado muito distante já
prenunciava esta avassaladora revolução no terreno da teologia: Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito
quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus.
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