Primeiro, o joio?

Parábola do joio e do trigo, Abraham Bloemaert
Deixai-os crescer juntos até à colheita, e, 
no tempo da colheita, direi aos ceifeiros:
ajuntai primeiro o joio, atai-o em feixes para ser queimado.
- Mateus 13.30 -

Texto do rev. Paulo Schütz.

Em geral, as pessoas gostam de ensinamentos simples, porque são fáceis de assimilar e memorizar, pensando que também sejam mais fáceis de serem aplicados, mas o fato é que a vida não é simples e, por isso, elas geralmente se atrapalham nessa hora. Ações importantes, mesmo as que deveriam acontecer primeiro, costumam necessitar de algumas outras providências preliminares, preparatórias, a serem realizadas antes. As principais seriam até dispensáveis se as pessoas fossem sempre previdentes. É o que aprendemos com a parábola do joio.

O próprio Jesus, que propôs a parábola, nos ajuda a interpretá-la: o campo é o mundo; a boa semente são os filhos do reino; o joio são os filhos do maligno. Quando os trabalhadores do campo perceberam que crescia aquela erva daninha no meio do trigo, consideraram que a coisa mais importante, a primeira a ser feita, era eliminá-la, e perguntaram ao dono: Queres que vamos e arranquemos o joio?  Ele não aprovou, porque o trigo, os filhos do reino, poderia também ser prejudicado nessa operação, mas concordou que era a primeira coisa a ser feita, entretanto, na hora certa: ajuntai primeiro o joio. Mas, segundo a explicação de Jesus, é tarefa reservada aos anjos, lá na consumação do século.

E nós, supondo que sejamos a boa semente, filhos do reino, como ficamos até lá, tendo de crescer em companhia das ervas daninhas, os filhos do maligno? Temos sido testemunhas de quão desastrosas têm sido as tentativas humanas de separar o joio do trigo antes da colheita. Primeiro, pela incapacidade natural da criatura identificar qual é um e qual o outro. Depois, porque, por razões pouco louváveis, se põe a pintar o joio de trigo e o trigo de joio, exatamente para confundir. Se não bastasse, ainda falta hoje lugar suficiente para amontoar com segurança tanto mato. Nessas tentativas, costumam escapar muitos malfeitores, e desgraças sobram para inocentes sem conta. Por mais louvável que seja a ação dos bem intencionados, a solução, definitivamente, não é por aí.

Mas, afinal, de onde veio essa coisa ruim? A parábola diz que, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo do dono do campo e semeou o joio. O que não podemos é vacilar e permitir que a má semente seja plantada em nosso quintal. E conhecemos um bom número daqueles que fazem isso, à luz do dia; vigiamos de olhos fechados. Mas a mais importante das providências, a primeiríssima apresentada pela parábola, onde tudo começou, a única capaz de construir a verdadeira paz, é sem dúvida a semeadura da boa semente. Pense nisso, se não quiser mais ouvir todo dia alguém na grande imprensa grunhindo por mais rigor na aplicação da lei, cadeia para os corruptos, justiça para os criminosos, redução da maioridade penal...


Referências bíblicas:
Mateus 13.24-30; 36-43.


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