O primeiro e o segundo

Vendo Jesus que ele havia respondido sabiamente, 
declarou-lhe: Não estás longe do reino de Deus.
- Marcos 12.34 –


Texto do rev. Paulo Schütz.

No capítulo 22 do evangelho de Mateus, encontramos o relato em que um intérprete da lei, para experimentá-lo, perguntou a Jesus: Mestre, qual é o grande mandamento na Lei?  Ele respondeu: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. O segundo: Amarás a teu próximo como a ti mesmo. No capítulo 12 de Marcos, foi um dos escribas, parecendo mais amigável, que lhe fez a pergunta e recebeu resposta semelhante. Em Mateus, o próprio Jesus revelou a razão porque esses mandamentos ocupam o primeiro lugar: Destes dois dependem toda a Lei e os Profetas. Em Marcos, coube ao escriba declarar que esse duplo mandamento é o principal porque excede a todos os holocaustos e sacrifícios, tendo recebido a aprovação do mestre, que acrescentou: Não estás longe do reino de Deus.

O mandamento determina amar a Deus de todo o coração, alma e entendimento para não sobrar o mínimo espaço para amar qualquer outra coisa que seja. Em Marcos, tanto Jesus quanto o escriba insistiram em que o Senhor é o único Deus, descartando assim todos os demais pretensos deuses, como era de se esperar. É sabido que também não deve haver lugar para o amor ao dinheiro ou às riquezas em geral. Mas, quanto ao amor ao próximo? E a si mesmo, como supõe o segundo mandamento? Quando Jesus observa, na versão de Mateus, que o segundo é semelhante ao primeiro, coloca assim os dois em pé de igualdade. E João vai mais longe em sua primeira epístola, afastando qualquer dúvida: pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Mas são as palavras do Rei por ocasião do grande julgamento que encerra o assunto: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes; mais esta: sempre que o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer.

Mas a pretensão de se desobrigar com relação ao próximo, alegando prioridade aos deveres para com Deus, são recorrentes na história dos homens. Começou já com Caim, que julgou ser uma oferta ao Senhor o suficiente para encobrir seu desprezo por Abel. A tradição judaica também teve essa intenção ao instituir o corbã, oferta ao Senhor, condenado por Jesus porque dispensava o judeu de fazer qualquer coisa em favor de seu pai ou de sua mãe. Era comum se dar prioridade aos chamados holocaustos e sacrifícios, que foram expressamente descartados pelo escriba, com a aprovação do mestre. O que não foi nenhuma novidade, pois Amós já bradava: Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos, porque não ouvirei as melodias das tuas liras. Antes, corra o juízo como as águas; e a justiça, como ribeiro perene. Mas é Jesus quem recoloca as coisas na devida ordem: vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta.

Então, parece que o resumo do resumo se reduz mesmo ao suposto amor a si próprio: Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas.
  

Referências bíblicas:
Amós 3.23-24; Mateus 5.23-24; 7.12;  22.34-39; 25.40-45; Marcos 7.11; 12.28-34; 1ª João 4.20

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