Na língua
grega a palavra èXjcíç pode indicar
a expectação tanto de um mal como de um bem; mas no Primeiro Testamento a
esperança, no hebraico tiqwãh, é
sempre a expectativa de um bem futuro. A esperança desempenha um papel importante
tanto na vida religiosa do povo de Israel, como na do indivíduo, pelo fato de
que a religião do Primeiro Testamento se fundava numa aliança que continha
promessas. Daí que no Primeiro Testamento, a esperança é geralmente a
expectativa confiante da proteção e da bênção de Javé, como cumprimento das
promessas da aliança. Está, portanto, intimamente ligada com a fé, com a qual
é posta em paralelo.
Até a
conquista de Canaã, o principal objeto da esperança era a terra prometida. Em
seguida, aumentando-se os perigos que ameaçavam a existência de Israel, a esperança
da proteção de Javé foi ficando mais viva. Do Dia de Javé esperava-se a
libertação definitiva de todo o mal e o início de uma era de felicidade e
prosperidade. Os profetas condenaram tal esperança como temerária, porquanto
Israel, pelos seus pecados, não mereceria a bênção, mas a maldição de Javé.
Embora ameaçassem com a punição divina, não deixaram de alimentar a esperança
na redenção e na restauração de Israel, ou pelo menos de um Resto de Israel. E,
quando o castigo predito se tomou um fato, pela destruição do duplo reino de
Israel, a esperança da salvação chegou ao seu auge, sobretudo nas profecias de
Jeremias e Isaías. Anunciaram a restauração de Israel na forma de uma nova
aliança e de uma entronização definitiva de Javé como rei de Israel e do mundo.
Assim a esperança ganhou, em Israel, um caráter escatológico.
Enquanto
vive, o homem tem esperança; quando desaparece a esperança, tudo está perdido;
um homem sem esperança é como morto. Para o homem piedoso há um futuro, há uma esperança,
e essa não será frustrada, porque se apoia em Deus; o homem piedoso pode chamar
a Deus de sua esperança. A esperança exclui a angústia, mas caminha a par com o
temor de Deus. O homem piedoso, quando pobre ou oprimido, espera cheio de
confiança a proteção e a ajuda de Deus e a restituição dos seus direitos. O
pecador arrependido espera o perdão dos seus pecados. Às vezes, a sua esperança
toma um matiz escatológico. Isso se acentua mais no judaísmo posterior; o
sábio, isto é, o piedoso, espera a imortalidade, a ressurreição de seu corpo, a
salvação junto de Deus, enquanto que para o pecador não há esperança, ou apenas
uma esperança vã e enganadora.
Segundo
Testamento
No Segundo
Testamento a palavra êtatíç, com
sentido religioso, encontra-se muitas vezes em Paulo, em Hebreus e em I Pedro, algumas
vezes em Atos e l João, nunca, porém, nos Evangelhos ou no Apocalipse. O verbo êXitctsw (esperar) encontra-se, tanto em
sentido profano como em sentido religioso, frequentemente em S. Paulo, com
menos frequência em Atos, raramente nos Evangelhos, nunca no Apocalipse.
Os
Evangelhos sinóticos não contêm doutrina alguma explícita sobre a esperança,
tampouco exortação para praticá-la. No entanto, a boa-nova de Jesus é uma
mensagem de esperança Pois o evangelho, a boa-nova da salvação, que Jesus
trouxe e realizou, é a pregação do futuro Reino de Deus, que sem deixar de ser
essencialmente escatológica, já opera e está presente na pessoa de Jesus. Aos
pobres, aos humildes, aos oprimidos, que colocavam a sua esperança unicamente
em Deus, Jesus promete a posse dos bens soteriológicos do Reino de Deus; as
Bem-aventuranças anunciam-lhes a futura realização da sua esperança.
Rm 8,24
descreve a esperança como o ato de aguardar, com confiança e paciência, o que
não se vê, as coisas que são invisíveis, não apenas porque pertencem ao futuro,
mas também porque transcendem os sentidos. A esperança portanto abrange
expectativa, confiança e paciência. Estas três são inseparáveis, embora se
acentue, às vezes mais a confiança, às vezes mais a expectativa e a paciência. Na
nova aliança, não da letra, mas do espírito, a esperança não é mais a mesma que
a esperança daqueles que viviam na antiga aliança, visto que se funda na
redenção já operada por Cristo. O cristão que “vive no espírito”, ou que
“possui o espírito”, já possui os bens da salvação: a redenção da escravidão
da carne e do pecado, a filiação divina e o direito à herança, a justificação
que dá a vida e a glória, o espírito que produz a vida eterna e garante a
ressurreição do corpo e é o penhor da herança divina. A esperança do cristão,
portanto, baseia-se na posse de bens que pertencem ao Reino de Deus, e que são,
como este, ao mesmo tempo presentes e futuros. Pois o cristão “foi salvo em esperança”,
e espera para o futuro a plena revelação de sua filiação divina e da glória.
Pelo que são ainda objetos da esperança do cristão: o Reino de Deus, a vinda de
Cristo, a ressurreição, a vida eterna, a participação na glória de Cristo e em
todos os bens que foram anunciados pela boa-nova, e que lhe estão prepaados
no céu.
Quem inspira
a esperança é Deus, que é fiel às suas promessas, e Cristo lhe dá firmeza. Ele
que é a esperança do cristão, sua esperança da glória eterna. Por isso a esperança
não decepciona, mas se torna uma fonte de alegria, de segurança e de honra.
Junto com a fé e o amor, com os quais ela está intimamente ligada, a esperança
constitui toda a vida interior do cristão, ela é a marca que o distingue
daqueles que não têm esperança, os pagãos.
Os escritos
joaninos usam a palavra esperança uma única vez; acentuam mais a posse atual da
vida eterna, que é suscitada no crente pela fé, que o faz passar da morte à
vida. Como, porém, o homem todo é destinado para a vida eterna, aguarda-o ainda
a ressurreição no último dia, e não obstante o crente seja efetivamente filho
de Deus, deve ainda se manifestar o que ele será; porque então será semelhante
a Deus, contemplando-o tal qual Ele é. A esperança, portanto, não está ausente
dos escritos joaninos; pelo contrário, condiciona aquela purificação da qual o
crente precisa, para se tornar puro diante de Deus. O Apocalipse tem por
finalidade consolar e confortar os cristãos da Ásia Menor, pela esperança na
vitória final da Igreja de Cristo sobre todos os seus inimigos.
Fonte:
Dicionário Enciclopédico da Bíblia, A Van Den Born - Vozes 1985
Dicionário Enciclopédico da Bíblia, A Van Den Born - Vozes 1985
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