Mudança de mente, Bein Heine |
Por mais de uma vez Jesus fez essa declaração bombástica, e
em uma delas, mesmo correndo sério risco de morte, sustentou-a diante da maior
autoridade política local, quando desafiou Pilatos, dizendo: meu Reino não é desse mundo. Porém, o
que para nós hoje, igreja do século XXI, significa não ser desse mundo, e que
nos torna diferentes dos demais humanos, que, como nós, são habitantes desse mesmo
mundo?
Se repararmos todo o contexto vamos verificar que o que Jesus
faz é acentuar o contraste entre luz e escuridão; entre verdade e mentira;
entre vida e morte; entre os que são daqui debaixo e os que são lá de cima;
entre os que são desse mundo e os que não são desse mundo. E o único argumento que
apresenta como parâmetro para fundamentar essa divisão é ainda mais perturbador.
Argumento esse John Wesley nas suas Notas Explanatórias do Novo
Testamento interpretou da seguinte forma: Aqui ele
mostra diretamente de onde vinha, do céu, e para onde ele vai, ou seja, ele
veio de cima e para cima irá voltar. Já uma rápida olhada na interpretação de
João Calvino vai nos dizer: De acordo com
essas palavras, o mundo daqui debaixo inclui tudo o que os homens possuem
naturalmente, e, assim, aponta a divergência que existe entre o seu Evangelho e
as engenhosas maquinações da sagacidade da mente humana; para o Evangelho o que
vale é a sabedoria celeste, contudo, a nossa mente insiste em ser subserviente
à sabedoria do mundo.
Mesmo parecendo que ambos não elucidaram muita coisa além do
que costumeiramente intuímos, uma coisa eu tenho que respeitar: quando dois
teólogos reconhecidamente divergentes apontam o mesmo caminho, é porque o
assunto tratado é mais sério do que se pode esperar. Então, que atributos a
vida cristã necessita para justificar e acentuar essa diferença?
Há algum tempo atrás, os evangélicos tradicionais se
diferenciavam do católicos romanos por uma série de prescrições negativas: não
fumar, não beber, não jogar, não brincar carnaval, e até algumas delas eram bem
estapafúrdias, como não tomar sorvete aos domingos. Esses eram os parâmetros a
serem seguidos por quem não queria ser identificado com o mundo. Mas parece que
isso causou apenas uma subdivisão entre os que iriam morar no céu católico e os que
habitariam o céu protestante, e sabemos bem que não era exatamente desses céus
que Jesus estava falando.
Trazendo a questão para os dias de hoje, veremos que as
subdivisões se multiplicaram exponencialmente. Hoje em dia, mesmo dentro do Vaticano,
que é o centro do pensamento do catolicismo romano, podem ser encontradas
divisões estanques, que questionam a autoridade e até destituem papas. Nem
precisaremos citar a miscelânea de tendências e denominações em que as igrejas
evangélicas se sub-subdividiram. Então, como iremos encontrar o caminho para cima neste enorme
cardápio de opções?
Sem qualquer pretensão de ser conclusivo onde grandes
doutores, como Calvino e Wesley, foram reticentes, eu diria que de antemão precisaríamos
voltar ao contexto e meditar profundamente no que Jesus disse, e para quem disse
o que disse. Precisaríamos saber, antes de mais nada, quem são os “vocês” e
quem são os “nós” aí neste contexto. Precisaríamos também tentar enxergar quando
estamos de um lado, ou quando engrossamos as fileiras outro. Mas talvez o mais
importante atributo daquele que é de cima seja a determinação de fazer o que
Jesus fez, sem qualquer mudança ou variação: eu digo ao mundo somente o que Deus me disse.
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