Âncoras e velas

Agora, pois, permanece a esperança. Paulo de Tarso (I Coríntios 13.13)
Martírio dos dez mil, Tintoretto
        
Texto do rev. Jonas Rezende.

O que faz um homem ressurgir das cinzas, como a Fênix, e reconstruir completamente a vida triturada? Como explicar a atitude de Jó, que confessa no esmagamento de sua dor: “Eu sei que o meu Libertador vive”? Por que os cristãos — perseguidos e levados às arenas para serem devorados pelas feras ou embebidos em petróleo e transformados em tochas humanas, para iluminar os banquetes dos depravados Césares — ainda assim cantam diante da morte: “Cristo é vitória”? O que leva o apóstolo Paulo, caminhando conscientemente para o martírio, a afirmar: “Eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que ele é poderoso para me guardar até o dia final”? Como pode Jesus Cristo, em face da sombra e esmagamento da cruz, orar com serenidade ao Pai: “E chegada a hora”?

Eu lhe digo que a resposta a estas e a tantas outras perguntas é nos dada na Bíblia, e pode ser resumida em apenas uma palavra: esperança. A esperança que permanece, segundo Paulo.

A esperança é simbolizada pela âncora, porque é fruto de nossa segurança em Deus. Mas é também representada pelas velas de um barco, uma vez que, por ela, o homem dá os voos necessários ao seu crescimento e realização. É a esperança que nos leva a participar da espiral de crescimento, no coração de Deus. Ela nos mergulha num mundo de fé e confiança, a despeito das interrogações.

Quer como pessoas, quer como povo — a esperança é a própria motivação para continuarmos vivos e nos tomarmos, como registra Cioram, “criaturas históricas”. O D. Quixote de Cervantes, logo após sua primeira e triste aventura, afirma, movido pela esperança: “Eu sei quem sou e quem posso ser.” E a peça O Homem de la Mancha coloca nos lábios do cavaleiro andante a canção-tema, vertida para a nossa língua por Chico Buarque de Hollanda:

Sonhar mais um sonho impossível,
Lutar, quando a regra é ceder,
Vencer o inimigo invencível...
E assim, seja lá como for,
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo verá uma flor
Brotar do impossível chão.

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