Tempestade no Mar da Galileia, autor não identificado |
Se pretendemos retirar da Escrituras algum ensinamento sobre
como atravessar as tormentas da vida, não podemos deixar de considerar dois episódio
importantes: o livro de Jó e a tempestade no mar da Galileia. É curioso constatar
como essas duas narrativas distintas possuem tanto em comum. E somente esse
paralelismo de situações pode nos assegurar de que por mais inusitadas que as
nossas experiências nos pareçam, elas possuem equivalente na história da
salvação, que não só nos encoraja, como nos enche de esperança.
Uma das incertezas, talvez a primeira que nos assalta, esta seja
justamente a dúvida quanto a presença de Deus conosco na hora da aflição. Por
mais que Jó negasse, os seus amigos insistiam em afirmar que Deus se afastara
dele por que contra ele tinha uma questão, e que qualquer mudança na sorte do
patriarca teria que passar antes por uma reconciliação com Deus através de uma
declaração de culpa. Com os doze discípulos no barco em meio à tempestade
também surge esta mesma inquietante questão, e ela fica patente nas palavras daqueles
que ousam acordar o Mestre dizendo: Não
se te dá que morramos.
Não podemos deixar de observar também que a resposta a ambas
as situações foi a mesma: fica quieto. Não consigo acreditar que estas
experiências não tivessem transtornado de vez a vida destas pessoas. Nem Jó nem
os discípulos poderiam, dali em diante, expressar a sua fé da mesma maneira que
antes. Por uma purificação contundente elas obrigatoriamente teriam que ter
passado. Mesmo que eles não entendessem de imediato, a verdade quanto a
presença constante de Deus não mais poderia ser negada.
Deus estava lá, bem no meio da tempestade. Tanto Jó, quantos
os discípulos a duras penas chegaram a mesma conclusão, conclusão esta que
poderia ser extraída também da fé confiante, caso eles tivessem realmente
esperado em Deus pelo fim do temporal. Eu sei que não foi e que ainda não é
nada fácil, e sei também que outras tempestades também viriam para colocar a fé
deles em cheque. Mas a experiência suprema de descobrir Deus bem no meio do
temporal, eles nunca mais poderiam negar.
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