São Jerônimo, Peter Paul Rubens |
O livro do Eclesiastes, no grego extiowxcrtic;
hebraico qõhelet, que é o particípio
feminino da raiz qãhal (discursar; a
forma feminina que indica profissão ou ofício) e significa, presumivelmente:
aquele que, na assembleia do povo usa da palavra, por ofício, pregando; daí,
p. ex., o nome do livro em alemão: Prediger,
desde Lutero.
Conteúdo
Além do título (1,1) e de um epílogo (12,9-14), o Eclesiastes
contém sobretudo certo número de considerações sobre a vaidade de tudo o que é
terrestre, conforme é indicado no início e no fim: vaidade das vaidades, tudo é
vaidade (1,2; 12,8). Entre esse início e esse fim encontram-se provérbios
(especialmente na segunda parte do livro), e meditações sobre a brevidade da
vida, a inutilidade das labutas do homem, o fracasso das suas obras, etc.,
alegando geralmente a própria experiência do autor. Repetidamente chega-se à
conclusão: goza da vida e dos bens desta terra; pois isso é a única coisa que o
homem tem de todo o seu trabalho.
No entanto, em tudo isso, o autor não é materialista, pois
considera os prazeres da vida como um dom de Deus, sabendo que o homem terá de
prestar contas a Deus sobre tudo, também sobre o uso dos bens materiais. Em
grande parte a sua visão da vida, aparentemente materialista e pessimista, provém
de suas ideias sombrias a respeito da vida após a morte nos infernos, de sorte
que as decepções da vida terrestre não lhe foram suavizadas pela perspectiva
de um feliz além-túmulo. Eclesiastes não foi escrito em aramaico, mas em
hebraico; em vocabulário, linguagem e estilo esse hebraico apresenta certas
semelhanças com os livros posteriores do Primeiro Testamento, o que propugnou a
tese de que o hebraico de Eclesiastes tivesse fortemente sido influenciado pelo
fenício.
Origem
Desconhece-se o autor ou redator do livro. No seu livro ele
dá a palavra a uma figura, que chama de qõhelet
e sobre a qual ele fala na terceira pessoa gramatical, distinguindo-o
claramente de si mesmo. Embora o nome de Salomão não se encontre nenhuma vez
explicitamente no livro, é claro que o qõhelet
várias vezes se apresenta como se fosse este rei. Antigamente pensava-se, por
isso, geralmente, que Salomão tivesse sido o autor. Certas queixas, porém,
sobre a administração pública e a ordem social, várias alusões, embora um
tanto obscuras, a acontecimentos posteriores e, sobretudo, o caráter da
linguagem (aramaísmos; expressões e formas de um hebraico tardio) provam que Eclesiastes
foi escrito numa época bem posterior a de Salomão. A maior parte dos exegetas
julga que o livro foi escrito no século III aC. Perto do Mar Morto foram
encontrados fragmentos, que a paleografia data em meados do século II aC.
Apesar de não apresentar um desenvolvimento lógico de
pensamentos, o livro possui certa unidade. No entanto, já alguns Santos Padres
atribuíram várias expressões que lhes pareciam fortes demais, a adversários,
refutados pelo autor de Eclesiastes l. Outros viam em Eclesiastes um diálogo em
que se formulam pontos de vista opostos. Muitos são de opinião que o livro foi
interpolado posteriormente, atribuindo-se então a um determinado redator ou
revisor todos os textos de um mesmo teor. Para Podechard, p. ex., todas as
recomendações da sabedoria são acréscimos posteriores de algum devoto da
Sabedoria, e todos os trechos em que se fala sobre a recompensa do bem e do mal
teriam sido acrescentados por algum piedoso, que achava o livro muito
materialista demais. De fato, procedendo assim, deixa-se para o autor original
de Eclesiastes uma visão bem materialista e bem pessimista. Combinando, porém,
todos os pensamentos de Eclesiastes, poderemos conceder que o livro,
acentuando unilateralmente as decepções da vida terrestre e o caráter sombrio
do além-túmulo, deixa uma impressão pessimista; do outro lado, porém, devemos
dizer que Eclesiastes recomenda uma atitude religiosa, em dependência do
Criador.
O autor quer ensinar a não exagerar em nada, a não pôr o
último fim em nada que seja perecível, e a cumprir os deveres, impostos por
Deus, gozando dos prazeres honestos da vida. É isso o que Deus quer, e o que é
melhor para o homem. Não queira ele fazer ou saber coisa melhor, pois, para
isso, deveria perscrutar os segredos de Deus, o que lhe é impossível. Dependência
direta de algum exemplo babilônico ou da filosofia grega (Epicuro, Estoicismo,
Heráclito) não se pode provar; as concepções do autor seguem de perto as do Primeiro
Testamento, embora não seja impossível que ele se refira também a ideias desses
gregos.
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