Tire água para o tempo do cerco. Nahum 3.14
Limite da tolerância de Deus, autor não identificado |
Texto do rev. Jonas Rezende
Lembro-me de que aprendi com minha mãe a fábula de La
Fontaine, Cigarra e a Formiga. A cigarra é imprevidente, passa todo o verão a
cantar, enquanto, prudentemente, a formiga se prepara para os dias difíceis que
certamente virão. Chega, afinal, o inverno e com ele a súplica da cigarra para
que a formiga lhe dê um pouco do que armazenou. Mas a formiga responde com
impiedade: Você não cantava? Pois continue a cantar.
A fábula nos transmite uma crueldade inflexível, mas também
a moral embutida na história: precisamos estar preparados para o inverno da
vida.
E difícil vislumbrar esperança no texto amargo do profeta
Nahum: Nínive será destruída fatalmente. Apenas uma recomendação prática pode,
talvez, ajudar: “Tire água para o tempo do cerco.”
A fome, nos cercos antigos, fez, certa vez, com que as
mulheres chegassem a comer a carne dos próprios filhos. Mas a sede castiga
muito mais. Então, “tire água”, recomenda o profeta.
Prepare-se.
O cientista cristão Warwick Kerr identifica, nessa atitude,
a própria base do saber científico. A atitude de Tomé me lembra, na verdade, a
“dúvida sistemática” de Descartes. E você sabe que só duvida quem pensa e
reflete; quem deseja conhecer mais, quem está vivo. É por isso que Descartes
conclui: “Penso, logo existo.”
Tenho profundo amor por todos os místicos que jamais
duvidam, mas me identifico freqüentemente com São Tomé.
O mais importante é que Jesus Cristo aceita a dúvida de seu
apóstolo e satisfaz a sua curiosidade. E nenhum seguidor de Jesus teve
conversão tão bela e instantânea nem fez uma profissão de fé mais eloquente do
que a dele ao Mestre de sua vida: “Senhor meu e Deus meu.
Paul Tillich, filósofo e teólogo, nos instrui:
Os que não são capazes de elevar as suas dúvidas até a
Verdade que transcende toda Verdade finita têm de reprimir suas dúvidas. E,
forçosamente, se convertem em fanáticos
.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário