Vocês ficam amigos de
cada ladrão que encontram e andam com pessoas adúlteras. Vocês estão sempre
prontos para dizer coisas más e não pensam duas vezes antes de pregar mentiras.
Vocês fizeram essas coisas, e eu fiquei calado; por isso, pensaram que eu era
igual a vocês. Salmos 50.18-19 e 21
Revelação do Beato de Facundos em 1047 |
Eu sempre ouvia dizer, e também dizia, que a imagem que
fazemos de Deus está diretamente associada à imagem que temos dos nossos pais.
Pais amorosos, Deus amoroso. Pais opressores, Deus vingativo. Porém, sou
forçado a admitir que as coisas mudaram e a imagem que temos de Deus nos é
dada de cima dos púlpitos por aqueles que dizem que falam em seu nome.
Não me lembro de ter ouvido no passado mensagens, como as de
hoje, que tentam descrever com detalhes precisos a personalidade de Deus. Deus
é assim, Deus quer assim, Deus faz assim. Parece que não importa nem o
contexto, a imagem de um Deus impassível é a mesma independente das circunstâncias.
Fico com a impressão de que voltamos à idade das trevas em que as missas eram
realizadas em uma língua estranha, a obrigatoriedade de ritos não era precedida
de qualquer tipo de explicação e a sacralização de relíquias e símbolos
substituía a busca da santificação e da edificação. Cultivou-se a ideia de que fazer
peregrinação a Jerusalém, subir o Monte Carmelo ou se batizar no Rio Jordão são
as mais preciosas virtudes na caminhada da fé. Parece também que ter um
versículo no vidro de um carro ou estampado em uma camisa sugere mais devoção
do que a leitura aplicada da Bíblia.
É muito comum, nos dias de hoje, um cristão perguntar a
outro se ouviu o último lançamento do cantor ungido ou se vai ao show da banda
gospel consagrada. Mas não vejo ninguém perguntar quantos homens não dobraram
seus joelhos diante de Baal quando Deus confrontou Elias na caverna. Por acaso, foram sete mil.
Estou tendo a oportunidade de visitar algumas igrejas de
vária denominações, e tenho insistido que gostaria de encontrar uma igreja que
fale de Deus, e não do inimigo da nossa alma; não de pastores e cantores ungidos;
não de testemunhos sobrenaturais. Eu quero ouvir falar de Deus, não do seu
caráter, mas do seu amor. Porque quando falamos de um Deus de amor incondicional
e irrestrito não temos margem para discriminar e nem para ficar colocando cargas
pesadas sobre os ombros dos outros, que nem nós mesmos suportamos carregar. Não
precisamos outorgar aos símbolos as bênçãos que o Espírito está constantemente
propenso a derramar sobre nós. Não precisamos apelar para a fraqueza das
relações humanas, nem para a fragilidade do corpo e muito menos para as
adversidades da vida para constranger as pessoas a contribuírem com a igreja,
porque o amor de Deus as constrangerá de um modo muito mais consciente e
objetivo.
Essa calamidade espiritual foi detectada pelo salmista do
Salmo 50, quando as pessoas do seu tempo criaram uma série de subterfúgios, que
iam de sacrifícios a festividades, tudo isso para substituir a fé consciente e
inabalável em Deus, justamente porque fizeram uma imagem de Deus muito semelhante
a eles mesmos. Eles imaginaram um Deus a partir das suas limitações, e deu no
que deu.
Não foi somente o salmista a detectar essa mal. Lutero
também vociferou contra ele: Pois daí vem
essa detestável tirania
dos clérigos com relação aos leigos. Confiam na unção corporal pela qual suas
mãos são consagradas e, depois, na tonsura e na veste. Não só creem que são
mais que os cristãos leigos, que são ungidos com o Espírito Santo, mas quase os
consideram como cachorros indignos de serem enumerados juntamente com eles na
Igreja. Por isso, atrevem-se a mandar, exigir, ameaçar, pressionar e espremer
em todo o sentido. Resumindo: o sacramento da ordem foi e continua sendo uma
maquinação belíssima para consolidar todas as monstruosidades que se cometeram
e ainda se cometem na Igreja. Aqui desaparece a fraternidade cristã, aqui os
pastores se transformam em lobos, os servos em tiranos, os eclesiásticos em
mais que mundanos.
Desde de aquele tempo, Deus está assistindo calado, e eu me pergunto: por quanto tempo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário