Dar-lhes-ei um só coração, espírito
novo porei dentro deles; tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes darei
coração de carne; para que andem nos meus estatutos, e guardem os meus juízos,
e os executem; eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus. Ezequiel 11.19-20
Texto do
rev. Jonas Rezende
Na novela Gabriela,
trabalho genial de Walter Avancini para a televisão, baseado no livro de Jorge
Amado, a música-tema do personagem-título tinha a seguinte letra: Eu nasci assim / Eu cresci assim / Eu vivi
assim / vou ser sempre assim / Sempre Gabriela.
Gabriela é,
de fato, uma pessoa que age com pureza e honestidade, sem se cercar de falsos
biombos nem subterfúgios. Mas vejo um perigo quando alguém assume que não vai
mudar, e se agarra na pobreza e monotonia da mesmice de cada dia.
Hermann
Broch, por outro lado, ao escrever A Morte de Virgílio, nos apresenta
poeticamente o autor da Eneida avizinhando-se da morte e ainda refletindo e
mudando sua forma de encarar o mundo. Vivendo e aprendendo, como diz a
sabedoria popular.
Creio que
quando Deus, através do profeta Ezequiel, afirma que põe um “espírito novo”
dentro de nós, espera que tenhamos uma vida onde a rotina não signifique a
morte de nossa alegria construtiva. Precisamos assim descobrir novas expressões
de nosso potencial. Ninguém deve se conformar em ser o samba de uma nota só.
Há em nós um
poeta adormecido, e a palavra poeta nos fala de criação e criatividade, a
própria imagem de Deus. Não podemos também sentir vergonha de começar de novo,
quantas vezes forem necessárias: Começar de novo e contar comigo / vai valer a
pena / ter acontecido, encoraja o cancioneiro popular. Como Penélope, a mulher
do Ulisses mitológico, temos de coser e descoser diariamente o nosso tapete. O
tapete, na verdade, nunca será o mesmo. Muito menos nós. Como você sabe, se os
nossos sentidos estiverem estimulados, iremos perceber que nenhum pôr-do-sol se
repete; cada dia tem as suas próprias impressões digitais.
Alguém
afirmou que o homem tem muitas iniciativas e poucas “acabativas”. Convido você
para que façamos como Proust: vamos em
busca do tempo perdido. Vale a pena? A resposta é de um poeta que desceu
fundo dentro de si mesmo: Fernando Pessoa. E ele nos instrui:
Tudo vale a pena
se a alma não é pequena.
Nenhum comentário:
Postar um comentário