Orna-te de excelência e grandeza, veste-te de majestade e
de glória. Derrama as torrentes da tua ira e atenta para todo o soberbo e
abate-o. Olha para todo soberbo e humilha-o, calca aos pés os perversos...
Então, também eu confessarei a teu respeito que a tua mão direita te dá
vitória. Jó 40
A palavra que mais
me impressionou na aula inaugural que o reitor da PUC-Rio, no ano em que meu
filho ingressou no curso de engenharia foi excelência. A busca pela excelência
foi oi tema do seu discurso de abertura daquele ano letivo. A partir desse
impacto eu fiquei imaginando quais seriam os obstáculos que se levantariam
contra essa nobre intenção, e os maiores que pude encontrar foram justamente o
ótimo e o bom.
O que me fez
recorrer a este tema foi a meditação do rev. Paulo Schütz que tem o título de
Jó VII, um dos trechos do seu fantástico estudo sobre o livro de Jó, que de
antemão posso assegurar que será um capítulo a ser incluído no livro de minha
autoria, ainda não editado, chamado Ser Jó.
O rev. Schütz faz
um comentário totalmente inusitado sobre o capítulo chave deste que muitos
consideram o mais impactante texto de toda a literatura universal, o livro
bíblico que conta a saga do patriarca Jó, um sheik árabe.
Pois bem, Jó, que no capítulo 29 já havia declarado ser
detentor do título de Pai dos Pobres, fala da sua sensibilidade para com os
menos afortunados: porque eu livrava os
pobres que clamavam e também o órfão que não tinha quem o socorresse. Eu me
fazia de olhos para os cegos e de pés para os coxos. Dos necessitados era pai e
até as causas dos desconhecidos eu examinava. Sob todos os aspectos isso
era uma boa ação que Jó realizava, mas que só acontecia com perfeição devido à
sua enorme riqueza. Este, para Jó, era uma das obrigações daquele a quem foi
dada a riqueza de bens materiais.
Mas Jó não se sustenta apenas no bom. Ele dá um passo
importante em busca do ótimo. Ele também utiliza a sua riqueza na promoção da
justiça: eu me cobria de justiça, e esta
me servia de veste; como manto e turbante era a minha equidade. Eu quebrava os
queixos do iníquo e dos seus dentes lhe fazia eu cair a vítima. Esse é
ótimo complemento que Jó dava ao uso devido da riqueza. Em palavras do rev.
Schütz: é para isso que serve a riqueza.
O que é cobrado de Jó no texto que serve de base para esta
meditação não invalida e nem contesta as suas iniciativas boas e ótimas.
Contesta sim o seu sentimento indisfarçável de realização plena. Tudo aquilo
era bom e necessário, mas não atingia a plenitude da vontade de Deus, que se
torna manifesta nestas breves palavras: Derrama as torrentes da tua ira e
atenta para todo o soberbo e abate-o. Olha para todo soberbo e humilha-o, calca
aos pés os perversos.
O texto fala
claramente que Jó estava concentrado todos os seus esforços no sentido de
derrotar a iniquidade manifesta, e por conta disso estava se omitido em
confrontar a iniquidade disfarçada em orgulho pessoal e soberba, que era um mal
frequente, e que, muito provavelmente, de alguma maneira acometesse o próprio
Jó.
O texto de Jó 40
complementa o que o próprio Deus chamaria de uso excelente da riqueza. É ele
quem ataca o berço mais bem guardado da injustiça, pois é lá que nasce a raiz
da iniquidade da opressão pelo poder do dinheiro. Não apenas a ponta do
iceberg, que embora não seja tão pequena, não espelha o muito que está submerso
e que precisa ser revelado.
É um texto que bate
forte contra a doutrina da prosperidade instaurada de vez em nossas igrejas. O
texto que não permite meias considerações. Um texto que declara com todas as
letras onde e quando a riqueza se alinha com a vontade de Deus e coopera na
construção do seu Reino.
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