Quem faz a vontade do Pai?

Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram: O segundo. Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no reino de Deus. Mateus 21.21
Jesus e a prostituta, Rubens
Na segunda parábola contada por Jesus que descreve o comportamento divergente de dois filhos de um mesmo pai, a complacência do juízo também pende para o lado que nos parece mais improvável. Ou seja, para o lado daquele que se encontra em flagrante delito, e que tem declaradamente um forte motivo para o arrependimento.

Se na parábola do Filho Pródigo estava em questão a conduta moral de Jesus, que comia e constantemente andava cercado de pessoas de reputação duvidosa, nesta, a discussão girava em torno da sua autoridade para anunciar as novidades do Reino. E quem questionava a sua autoridade eram justamente as maiores autoridades que o povo reconhecia: os principais sacerdotes da religião oficial, e os anciãos que representavam a reserva moral do povo.

Mais uma vez Jesus abre mão de pleitear a sua autoridade divina, para confrontar os poderosos deste mundo em um terreno que nunca é levado em conta nas questões que envolvem ações objetivas em favor do bem estar comum. Isso não acontece nem mesmo na igreja, de onde se esperava os maiores e melhores exemplos. Jesus dá conta de que quem faz a vontade de Deus quase nunca é aquele que se apresenta com a boa vontade estampada no rosto, principalmente porque a vontade de Deus quase nunca é algo agradável e prazeroso de se realizar, pois contraria radicalmente tanto as nossas vontades e desejos, como as vontades e desejos que regem as ações desse mundo.

Outro dado importante que está sendo realçado nesta parábola é o fato de que para reconhecer a vontade de Deus é preciso trilhar um caminho diametralmente oposto a essa vontade. Pode parecer absurdo, mas na parábola há sinais mais que evidentes de que é preciso antes de mais nada ter a consciência plena de tudo aquilo que Deus não quer, para que daí então fique patente aquilo que ele realmente quer.

Não sei se palavras como: “Eu vim buscar o perdido”, “quem está doente é que precisa de cura” ou “publicano e prostitutas vos precederão no Reino dos Céus” acendem o alerta que foi endereçado aos discípulos que, se imaginando com autoridade e conhecimento de causa suficientes para julgar o que é ou não vontade de Deus, estão questionando aqueles que estão de fato fazendo a vontade de Deus, sem sequer saber que estão.

Não há qualquer romantismo da parte de Deus na escolha dos publicanos, prostitutas e pessoas de péssima fama. Não há também aqui uma apologia declarada à má conduta. Mas há sim a visão de que o pecador contumaz está sempre mais próximo de realizar a vontade de Deus do que aquele que tem poucos motivos para se arrepender. E o critério que diferencia ambos é exclusivamente o critério do amor, pois foi Jesus quem disse: Aquele que muito foi perdoado, muito ama; aquele que foi pouco perdoado, pouco ama.

Não quero que pensem que estou inventando uma nova forma de se conhecer a vontade de Deus. Muito antes de mim, e mesmo antes daqueles que me alertaram para o assunto, um monge agostiniano chamado Martinho Lutero, sobre pecadores disse o seguinte para Melanchton: Seja um pecador e peque fortemente, mas creia e se alegre em Cristo mais fortemente ainda… Se estamos aqui (neste mundo) devemos pecar… Pecado algum nos separará do Cordeiro, mesmo praticando fornicação e assassinatos milhares de vezes ao dia. Mas sobre os que não pecavam, contrapôs: Estas almas piedosas que fazem o bem para chegar ao céu não somente não o alcançarão, como serão arranjados entre os ímpios; e importa mais em impedi-los de fazerem boas obras que pecados.

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