Águas de Meribá, joshthecartoonguy |
Não guardaram a
aliança de Deus, não quiseram andar na sua lei; esqueceram-se das suas obras e
das maravilhas que lhes mostrara.
Leia Salmos 78
Texto do rev. Jonas Rezende.
Este salmo de Asafe foi escrito com o evidente propósito de
mostrar a ação providencial de Deus na vida de seu povo. O poeta evita
manifestações pessoais. O que conta é a história sofrida e abençoada de um que
conquista, guiados por Deus e sob a liderança de Moisés, a condição de um povo
que faz aliança com o Senhor e precisa guardá-la. O poeta cobre boa parte do xodó,
os quarenta anos no deserto, derrotas e vitórias, desvios e fidelidades, os dez
mandamentos e o bezerro de ouro... Não é assim formada também a nossa vida:
vales e montes, luzes e sombras, acertos e erros fatais?
O salmista reconhece que a memória do seu povo precisava ser
preservada; o passado é o fundamento da nação. Asafe descreve: Deus estabeleceu
um testemunho em Jacó e instituiu uma lei em Israel, e ordenou ais nossos pais
que os transmitissem a seus filhos, a fim de que a nova geração os conhecesse,
filhos que ainda hão de nascer...
A diferença entre os agrupamentos humanos e dos outros
animais é justamente essa experiência acumulada, essa cultura natural que,
frequentemente, fala mais alto que a biológica, e aciona todas as
transformações. Cai um avião nos Andes e alguns sobreviventes preferem morrer a
comer a carne dos que pereceram na queda. Veja como uma relação social pode
suplantar o chamado instinto de conservação! A memória de um povo é tão
importante no condicionamento da nossa conduta que Augusto Comte chegava a
afirmar: os mortos governam os vivos. Através do mundo pronto que nos legaram,
com suas leis, seus conceitos, suas ideias, suas instituições.
Mas era inadmissível para Asafe que o povo da aliança não
tivesse sensibilidade para viver as oportunidades que Deus lhe oferecia no
presente. Se a importância da memória passada é indispensável, como não estar
alerta para viver com dignidade as oportunidades presentes? O salmista insiste:
fez sair o seu povo como ovelha e os guiou... levou-os até a sua terra santa.
Então era preciso tomar posse, organizar cidades, cultivar a terra. Só olhar
atrás era perigoso. A advertência bíblica é bastante conhecida: Lembrem-se da
mulher de Ló. Porque um povo pode e até deve amar os seus museus, mas é uma
loucura se esse povo se transforma em um museu, imitando o que ficou para trás,
invertendo a posição dos seus faróis.
O povo da aliança com Deus não pode descuidar-se ainda da
esperança – o que é, em si, um compromisso com o futuro, com os filhos que,
segundo o salmista, ainda iriam nascer. Mas Como guardar o futuro? O teólogo C.
H, Dodd cunhou uma expressão para responder essa pergunta: escatologia
realizada, isto é, viver os acontecimentos futuros como se já tivessem
acontecido. Em uma palavra: esperança.
O rei de Portugal dom João VI, depois da sua peregrinação
forçada pelo Brasil, acossado por Napoleão Bonaparte, aconselhou seu filho que
permaneceria em nossa terra: Pedro, o Brasil brevemente se separará de
Portugal; se isso acontecer, põe a coroa sobre a tua cabeça antes que algum
aventureiro lance mão dela. Dom Pedro obedeceu e se tornou, pouco tempo depois,
o primeiro imperador do Brasil.
O salmo de Asafe tem duas ideias principais: o povo não
guarda a aliança do Senhor, mas ele renova as oportunidades. Como nunca se sabe
qual é a última oportunidade, ouça a oportuna advertência da Bíblia:
Se hoje vocês ouvirem a sua voz
Não endureçam os corações.
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