Uma tríade abençoada

Os quatro evangelistas, Jacob Jordeans
Neste último domingo, na Igreja Cristã de Ipanema, realizamos uma experiência diferente no culto da manhã. Três pastores, cada um com a sua visão teológica e sem combinação prévia, pregaram sobre um único tema: a parábola das dez virgens, texto do evangelho recomendado pelo Calendário Litúrgico para esta data.

O rev. Edson Fernando leu, de forma alternada com a congregação, o texto de Mateus 25 falando que a sua importância era tanta que necessitaria uma tríade de pregadores para arranhar levemente o seu denso conteúdo, e passou a palavra para o rev. Jonas Rezende.

O grande mestre começou a sua incrível explanação do tema falando das responsabilidades do casamento que se estendem por todos os segmentos da vida. Falou, com riqueza de detalhes sobre os preparativos materiais, bem como sobre a preparação psicológica e física para um empreendimento dessa ordem. Pois demanda ele obrigações que vão muito mais além do que a beleza da noite de núpcias, pois chega ao compromisso da formação de um lar em que pessoas serão formadas e informadas a respeito da vida.

Especificamente sobre a parábola, ele inovou com a ideia de todas as dez eram igualmente imprudentes, pois se deixaram vencer pelo sono na hora crucial de um grande dia que se encaminhava para o seu clímax, assim como os discípulos dormiram no Getsêmani, enquanto Jesus suava sangue em sua oração de entrega de sim mesmo.

Eu, por minha vez, me vali de um texto já havia postado nesse blog, que trata do assunto esse assunto sob o ponto de vista daqueles que já ficaram no escuro sem vela e no trânsito sem gasolina. Falamos sobre que a parábola deve ter um propósito maior do que condenar cinco moças que no tumulto da preparação de uma grande comemoração se esqueceram de algo que não julgaram importante.

Falamos também sobre a chegada do noivo, que segundo a analogia que a própria Bíblia faz dele, viria para recompor a desordem, dando luz aos que habitam nas trevas, esperança aos desalentados, uma nova oportunidade aos falidos e um futuro novo a todos os povos.

Finalmente o rev. Edson retomou a palavra e pregou sobre as implicações traumáticas que as pessoas se veem expostas quando a culpa por pequenas omissões se transformaram em trágicas consequências. Afirmou ele mesmo que mesmo meios que ocasionaram de fato a tragédia fossem alheios à nossa vontade, ainda assim carregamos por toda a vida esses traumas, e que eles marcam profundamente a nossa história.

Terminou dizendo da importância de um perdão generalizado, de uma anistia quase que total, pois isso se torna a única saída que pode nos livrar de falsas seguranças, assim como da culpa irreparável.

Para que vocês tenham uma pálida noção do que aconteceu naquela manhã, várias pessoas da congregação nos procuram acrescentando, cada um, uma outra perspectiva não abordada do texto. Não posso dizer com certeza, mas é muito provável que a amplitude dada pelos pregadores liberou as pessoas para que elas se manifestassem mais livremente, o que dificilmente acontece quando a mensagem pregada é monolítica e oriunda de uma só fonte.

Também não afirmo com certeza, mas tenho para mim que o que fizemos não foi nada além de uma pobre imitação sintética e pontual dos evangelhos sinóticos, que pela sua diversidade emprestaram à mensagem de Jesus aquilo que nem ele mesmo em seu ministério terreno seria capaz de realizar: ver a sua palavra disseminada por várias vozes e por mais de um ponto de vista. 

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