O que é ENTRONIZAR?

Entrada triunfal, Louis Felix Leullier
Em Israel havia a festa da entronização, que seguia a fórmula yahweh mãlak, ou Javé tornou-se novamente rei: Sl 99.1- Reina o SENHOR; tremam os povos. Ele está entronizado acima dos querubins; abale-se a terra. Alguns teólogos rejeitaram as explicações históricas e escatológicas dadas a esse salmo e a outros semelhantes (cf. 24; 95; 97; 98; 100), e pronunciaram-se a favor de uma explicação cúltica, ainda mais porque nestes salmos certos ritos do cerimonial da coroação dos reis davídicos foram aplicados a Javé, tais como: a entrada triunfal depois da unção junto de Gion, o toque de trombetas, as aclamações e os aplausos do povo e o assentar-se no trono.

Esses salmos pertenciam à liturgia da festa anual dedicada à celebração da ascensão de Javé ao trono. Tal festa era celebrada no oriente antigo em honra de vários deuses; sobretudo na festa babilônica do ano novo, em que predominava essa ideia. Esta festa constava dos seguintes elementos:
Uma representação dramática, se não da morte e ressurreição, pelo menos do desaparecimento e da volta de Marduc;
A recitação ou encenamento simbólico do mito da criação;
Uma espécie de drama litúrgico que fazia reviver os diversos episódios da luta e da vitória de Marduc;
O matrimônio sacral;
Uma procissão solene de Marduc, na qual se carregavam também as imagens de outros deuses, para um santuário fora da cidade, o templo de Akitu, onde Marduc tomava novamente posse do trono. Na liturgia dessa festa o rei desempenhava um papel extremamente importante.

Na festa do ano novo em israel, a realeza divina teria sido o tema principal, de sorte que esta teria tido realmente o caráter de uma festa de entronização. Tais ritos teriam sido: a leitura da narrativa da criação, uma representação dramática da luta de Javé contra os seus inimigos, uma procissão solene, provavelmente com a arca, chegando à festa depois ao seu auge pela ascensão de Deus a seu trono, pelo qual Javé assumia novamente a realeza sobre o seu povo, confirmando, ao mesmo tempo, o rei davídico no seu poder, como filho e representante de Deus. Alguns argumentam que Javé no passado tivesse sido celebrado como um deus que morria e ressurgia, e que isso era a  garantia de prosperidade e fertilidade para o país.

Essa festa da entronização teria sido originariamente o dia de Javé, que aos poucos foi desenvolvendo a consciência uma simples festa anual não podia representar a confirmação definitiva do domínio absoluto de Javé, formando-se assim a convicção de que isso seria o efeito de uma manifestação extraordinária e definitiva do seu poder, projetada para o futuro, que seria então o Dia de Javé por excelência. Assim teria nascido a escatologia.

A festa da entronização teria tido as suas origens nos primeiros tempos da realeza. Is 6.5 é a prova de que Deus já estava entronizado no tempo de Isaías. Disso seguia que a festa da entronização não foi introduzida em Israel por influência direta da Babilônia, mas antes através dos cananeus; assim explica-se a diferença típica entre os cânticos israelíticos da entronização e os textos litúrgicos de Babel.

A tese de desses teólogos não foi universalmente aceita; longe disso; muitos críticos se mostraram céticos; alguns até esforçaram-se por refutá-la detalhadamente. A principal objeção é que nenhum texto bíblico menciona tal festa. Responde-se a isso que a festa da entronização, desde o principio ligada à dinastia reinante, era celebrada apenas pelas instituições oficiais, e fora disso, somente pela realeza.

Em todo o oriente antigo os cultos eram dominados pela mesma ideologia: o ritual do rei. Era um dado importante para chamar a atenção sobre o lugar preponderante que a representação de Deus como rei ocupava nas religiões dos semitas ocidentais. A exclamação yahweh mãlak, que traduz Javé como rei é um ato de fé no poder e na proteção permanentes de Javé, que em um sentido escatológico pela volta do cativeiro, já começara a se realizar.

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