O sepultamento de Sara, Tom Lovell |
A cremação.
De cremação trata-se em Am 6.10: Se, porém, um parente chegado, o qual os há de queimar, toma os
cadáveres para os levar fora da casa e diz ao que estiver no seu mais interior:
Haverá outro contigo? E este responder: Não há; então, lhe dirá: Cala-te, não
menciones o nome do SENHOR. Tal cremação tinha por fim consumir as partes
mais macias pelo fogo, para se conservarem melhor os ossos; esses eram, depois,
imergidos em óleo ou gordura, envolvidos em linho e colocados numa urna. Da
cremação distinguia-se a incineração, que, além da inumação, estava em voga
entre os romanos, sobretudo entre as classes mais baixas. A cinza era colocada
em columbaria, ou, tratando-se de
gente pobre, numa olla communis.
Também no antigo Canaã foi constatado esse costume. Em
Israel a incineração nunca esteve em uso, a não ser, talvez, como castigo: Gn
38.24 - Passados quase três meses, foi
dito a Judá: Tamar, tua nora, adulterou, pois está grávida. Então, disse Judá:
Tirai-a fora para que seja queimada. Amós censura Moab por ter queimado os
ossos do rei de Edom; tal crime não ficará impune. O fato de l Cr 10.12, que relata
posteriormente o sepultamento de Saul, não mencionar mais a incineração prova
que as concepções dos judeus neste ponto se tomaram muito mais rigorosas.
As concepções.
Para os israelitas era de muito valor ser sepultado. Ficar
sem sepulcro seria uma grande desgraça Ec 6.3: - Se alguém gerar cem filhos e viver muitos anos, até avançada idade, e
se a sua alma não se fartar do bem, e além disso não tiver sepultura, digo que
um aborto é mais feliz do que ele. Esta era uma das mais temidas consequências
da guerra, um castigo de Deus, pois até aos inimigos concede-se sepultamento: lRs
2.31 - Disse-lhe o rei: Faze como ele te
disse; arremete contra ele e sepulta-o, para que tires de mim e da casa de meu
pai a culpa do sangue que Joabe sem causa derramou.
Esse valor que se dava ao enterro era, pelo menos na sua
origem, a consequência da convicção de que a vida da pessoa no além dependia
das condições em que se conservava o seu corpo. Tinha-se da vida no além uma ideia
bastante materialista, como provam as reservas alimentícias que na Idade do
Bronze se davam aos mortos, e que certamente não devem ser consideradas como.
Ora, sem enterro não existe o descanso, o essencial para a existência no além
Is 14.19 - Mas tu és lançado fora da tua
sepultura, como um renovo bastardo, coberto de mortos traspassados à espada,
cujo cadáver desce à cova e é pisado de pedras. Mas o texto não diz que o enterro
seria a condição para a pessoa ser recebida no xeol, além disso, as noções sepulcro e xeol se sobrepõem: Ez 32.17 - Os
mais poderosos dos valentes, juntamente com os que o socorrem, lhe gritarão do
além: Desceram e lá jazem eles, os incircuncisos, traspassados à espada.
A concepção materialista da vida após a morte manifesta-se
também num desejo muito forte de ser sepultado junto com os antepassados. No
caso de Gedeão, Sansão, Asael, Aquitofel e quase todos os reis de Judá e muitos
de Israel, o sepulcro familial é explicitamente mencionado. Não ser sepultado
com os antepassados também era considerado um castigo de Deus l Rs 13.22 - Não comerás pão, nem beberás água, o teu
cadáver não entrará no sepulcro de teus pais; o contrário, era recompensa.
Tal desejo só se explica quando a pessoa crê que, de alguma maneira, a vida
após a morte está ligada aos despojos mortais. Nesse caso as expressões “dormir
com seus pais” e “ser sepultado junto a seus pais” têm todo o seu sentido.
Muitas vezes, porém, no Primeiro Testamento tais expressões não são mais do que
um modo de dizer. A noção de “vida após a morte” já havia, nestes casos,
perdido muito do seu caráter material, concreto, que tinha originariamente.
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