Sepultamento de Adão, Piero della Francesca |
Preparação do cadáver.
O costume de fechar os olhos do falecido aparece desde bem
cedo: Gn 46.4 - Eu descerei contigo para
o Egito e te farei tornar a subir, certamente. A mão de José fechará os teus
olhos. Conforme a Mixná, esse ato
não era permitido no sábado, e quem o fazia cedo demais, era um assassino.
Outras preparações de mortos antes do enterro não são mencionadas no Primeiro
Testamento, a não ser as de Jacó e José, embalsamados de modo egípcio. Nem os
cananeus, nem os israelitas embalsamavam os seus mortos. Sobna possivelmente
teve a ambição de ser sepultado assim; as palavras sarcásticas com que Isaías
profetiza o seu exílio, parecem insinuar isso.
O romance de Sinué supõe a oposição entre a mumificação, em
uso no Egito, e a maneira asiática de enterrar, que consistia em envolver o
falecido simplesmente numa pele de carneiro, talvez a veste que usara durante a
sua vida. Costume semelhante pode ser suposto em I Sm 28.14, onde Samuel é trazido
envolvido num manto. Ao tempo do Segundo Testamento as informações são mais amplas.
Conforme At 9.39, o corpo era lavado por mulheres e, conforme costume judaico,
envolvido em linho, junto com especiarias. Em Mc 15.46 o corpo de Jesus é
envolvido numa mortalha mvõõrv, e em
Jo 19.40 é atado com tiras de linho òSóvta,
enquanto um pano lhe cobre a cabeça. O termo ó0óvia, usado por João, pode significar, além das tiras, também
algum pedaço maior de linho; pode abranger, portanto, a mortalha, pois em 11.44
as tiras com que mãos e pés de Lázaro estavam atados foram chamadas de xevçíai, enquanto que Lucas mencionou a mortalha wvôtov, mas fala depois em óOóvta.
Depois dessa preparação, o morto era colocado na sala e lamentado por parentes
e amigos, junto com carpideiras e flautistas (cf. Mt 9.23).
O sepultamento.
Geralmente o cadáver era enterrado no dia do falecimento,
umas oito horas depois, como ainda hoje se faz em clima tropical. A respeito
de Jacó, se observa que por causa do embalsamento ele foi sepultado só depois
de quarenta dias. Sem caixão, o cadáver era colocado num esquife e levado ao
sepulcro pelos filhos, parentes próximos, amigos, servos e muitos curiosos. Remonta
a Moisés o costume de acompanhar um pouco o cortejo fúnebre, encontrado no
caminho. No sepulcro, ou numa parte do mesmo, espalhavam-se ervas cheirosas. Este
costume já é mencionado em II Cr 16.14. No sepultamento de reis e pessoas
importantes queimava-se também incenso. No sepulcro, o cadáver era estendido
de costas, às vezes com a cabeça numa pedra. Na Idade do Bronze, o era colocado
de lado, em posição curvada. Já no Calcolítico, o cadáver ficava agachado: com
o queixo perto dos joelhos e os calcanhares o mais perto possível da bacia.
Sendo esta a posição do feto no ventre da mãe, muitos pensam que ela
concretiza a ideia de que a morte é uma volta para o seio da mãe-terra.
Muito provavelmente o sepultamento era acompanhado de uma
refeição comum, no túmulo. Certamente havia uma celebração ao terminar o tempo
de luto, e esse durava sete dias: Gn 50,10 - Chegando eles, pois, à eira de Atade, que está além do Jordão, fizeram
ali grande e intensa lamentação; e José pranteou seu pai durante sete dias.
Objetos que acompanhavam os mortos. As escavações palestinas
mostraram que os mortos, em seus túmulos, eram acompanhados de toda espécie de
objetos. Na Idade do Bronze estes objetos consistiam em jarros grandes, cheios
de água, pontiagudos em baixo, fixados com a ponta no chão, muitas vezes com um
pequeno cântaro ao lado, e outras cerâmicas para alimentos; bem como armas e
enfeites. Em muitos casos parece que as cerâmicas foram quebradas propositadamente.
Diversos sepulcros, descobertos no Negueb, continham, além de esqueletos humanos,
também os de cavalos e jumentos. Esses sepulcros são interpretados como sendo dos
Hicsos. Nos depósitos funerários da Idade do Ferro, durante a ocupação da
Palestina pelos hebreus, faltam os grandes jarros para água e trigo, que são
substituídos por cerâmica menor, às vezes bem pequena, e amuletos.
Desde cedo as lâmpadas de azeite formam a parte mais
característica do depósito. No tempo helenização elas são bastante numerosas e
formam com garrafinhas de perfume e bálsamo o enxoval funerário; neste tempo
não há mais vestígio de estoques de alimentos nos sepulcros. No tempo greco-romano
gostava-se de colocar um diadema de ouro na cabeça do morto, ou uma folha de
ouro na testa ou na boca, que podia conter também uma inscrição. (continua)
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