O que é FIRMAMENTO?

Celestial Cartography
A observação a olho nu dos fenômenos celestes sugere a existência de uma cúpula um tanto achatada, apoiada no horizonte, a que chamamos de abóboda celeste ou firmamento. A ideia que o homem faz da natureza depende do que os seus sentidos apuram. Não devemos nos admirar se antigamente a impressão acima descrita era universalmente tida por correta, admitindo-se que o céu parecia mesmo como uma abóboda.

Assim ficou até que observações científicas provaram o contrário. Também os autores sagrados pensaram da mesma maneira como os seus contemporâneos egípcios, babilônicos ou gregos, e escreveram numerosos textos que falam em “o céu, estendido como uma tenda”. Esses textos, portanto, apresentam o firmamento como uma coisa consistente. De modo mais claro ainda isso se vê na narrativa da criação segundo a Fonte Sacerdotal P, em que a formação do cosmo é atribuída a uma divisão do oceano primitivo em duas partes, entre as quais ficaria o mundo habitado.

As massas de água acima do mundo são retidas por um elemento, chamado rãqia' no hebraico, que pode significar uma muralha ou um terraço de argila batida ou então uma cúpula de metal. Essa última acepção lembra Homero, que tanto na Ilíada quanto na Odisseia qualifica o firmamento como sendo de “bronze pesado” e de “ferro”; confira em Jó 37.18, onde a firmeza do céu é comparada com a de um espelho de metal. A primeira concepção, muralha de argila, coincide com o supruk samê, muralha do céu, da cosmologia babilônica. Ela segurava o oceano celeste dentro dos seus limites, que alguns identificavam com o zodíaco. Gênesis 1.8, porém, parece indicar que para o autor sacerdotal rãqia‘ não é uma parte do firmamento, mas o firmamento todo. Os LXX traduziram rãqia' por um termo vago, e a Vulgata diz que o firmamentum é equivalente a alguma coisa que é sólida e firme.

No firmamento Deus colocou os luminares do céu: sol, lua e estrelas. Conforme o autor sacerdotal há no firmamento janelas ou diques. Encontra-se a mesma concepção na Babilônia e na narrativa do dilúvio, onde Deus abriu esses diques, fazendo assim novamente as águas de cima se misturarem com as de baixo, destruindo o cosmo e voltando as caos (Gn 7,11). Segundo Is 24,18 isso deverá repetir-se nos últimos tempos. Os estudiosos, no entanto, consideram o dilúvio um fato excepcional, por isso não se pode concluir a sua descrição. Tampouco a expressão popular “o céu estava fechado”, que para os israelitas era a falta de chuva, com os diques já descritos. Pois sabia-se muito bem que a chuva era trazida pelas nuvens. “Está chovendo da muralha do céu” é uma paráfrase poética da atividade de Javé como autor da fertilidade. A mesma interpretação vale para IIRs 7.2-19 e Ml 3.10, onde a metáfora dos diques abertos do céu exprime bem a abundância da bênção de Deus.

Os israelitas não eram insensíveis à grandeza majestosa do cosmo material. Atentavam para a vastidão do firmamento azul, como fica provado em vários textos, onde tal visão impressionante é considerada também como uma revelação da glória de Deus. Em Dn 12.3 o brilho luminoso do firmamento serve de comparação para a futura glória dos salvos.

Também nas suas visões de Ezequiel fala em um rãqia' , em cima do qual Javé tem seu trono, o que provavelmente indica o firmamento. Esse firmamento repousava sobre quatro seres Ez 1.22, nos quais os teólogos Zimmern, Gunkel, Jeremias veem as constelações Touro, Leão, Escorpião e Aquário, os quatro pontos cardiais do zodíaco, por conseguinte do firmamento. As rodas entre os quatro seres podem ser interpretadas em relação com a rotação do firmamento. Outros pensam que não foi pelos fenômenos cosmológicos e sim pela arca da aliança, que Ezequiel foi inspirado nessa visão. Apocalipse 4.2-8 é uma adaptação de Ezequiel 1: as rodas fazem parte dos seres, e o firmamento foi substituído por um “mar de cristal", que devemos sem dúvida identificar com "as águas acima do firmamento de Gênesis 1.

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