Um pede, todos recebem

Pastora, Millet
Mas regozijem-se todos os que confiam em ti; folguem de júbilo para sempre, porque tu os defendes; e em ti se gloriem os que amam o teu nome. Pois tu, SENHOR, abençoas o justo e, como escudo, o cercas da tua benevolência. Leia Salmos 55

Jesus Cristo diz, no conhecido Sermão da Montanha: peçam e vocês receberão. Qual é o pai que dará pedra ao filho que lhe pedir pão? Ou, no lugar do peixe solicitado, uma serpente?

Este salmo é uma grande súplica individual. Apesar do título que você pode ler em sua Bíblia, não são poucos os estudiosos que negam a autoria a Davi. Acreditam que o poema foi escrito por um homem temente a Deus, que se vê perseguido e ameaçado pela crueldade dos que o cercam. Na sua aflição, ele chega a interceder com extremo desespero: acode ao meu gemido.

Vejo, sinceramente, o problema da autoria como sendo de importância menor. A página de aflição coloca-nos face a face com um irmão anônimo que nos mostra suas lágrimas atormentadas, e denuncia as mentiras e injustiças de toda sorte, que bem podem ferir também a alma de qualquer um de nós. Sabe o poeta sofrido que Deus fará prevalecer a verdade. Mas a dor é tamanha, que o pobre homem se vê forçado a pedir uma libertação urgente e imediata. Salvação já! A espera havia se tornado um suplício intolerável.

O salmo lembra uma radiografia do que sucede com quem se sente esmagado pelo sofrimento. Deus tarda mas não falta - é um ditado que não consegue confortar aquele que está no olho do furacão, como você também sabe muito bem. Por isso, a súplica do salmista é pungente e comovedora: de manhã te apresento a minha oração e fico esperando... Não suporto mais.

Acontece que Deus não apenas se compadece do sofredor, mas a sua resposta libertadora corresponde também às carências de toda a comunidade. É exatamente isto: um pede e todos recebem. Parece-me que o Senhor utilizou uma maneira até didática de mostrar que somos indivíduos, mas não podemos ser individualistas. Nossa oração deve ter então ambições comunitárias. Precisa ser inclusiva. Alcançar a todos. O apóstolo Paulo nos instrui que, quando alguém sofre, sofrem todos. Quando o Cristo ensina os seus seguidores a orar, não lhes passa uma forma individualista, mas oferece a prece modelo, que é feita na primeira pessoa do plural: o pai-nosso.

E o salmo termina com alegria e festa, como você pode constatar se reler as palavras que encimam esta meditação: alegrem-se todos os que confiam em ti...

Mas fica ainda uma lição final. Veja só: o sofrimento cumpre um papel positivo. Amadurece-nos. Aumenta a nossa compreensão a respeito de tudo. Ajuda-nos a atingir o cerne da nossa própria vida. Depura-nos como o ouro que passa pelo cadinho flamejante. E lapida-nos, revelando a gema que pulsava escondida dentro de uma pedra bruta.       
        
Gandhi, que se imolou pelo seu povo e enfrentou pacificamente o Império britânico, onde o sol nunca se punha; Gandhi, um cristão que não pertencia a nenhuma igreja, tinha autoridade moral para instruir: País algum se elevou jamais, sem ter-se purificado ao fogo do sofrimento.

Lembre-se deste salmo,
caso um dia a dor venha a bater à sua porta.t

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