Autoridade sobre os demônios, autor não identificado |
O início do
evangelho de Marcos trata da autoridade de Jesus frente às situações vigentes,
mas não daquelas que aconteciam exatamente na mesma época em que Jesus viveu,
porém, de um tempo imediatamente posterior à destruição do templo. De um tempo
em que os judeus-cristãos sobreviventes do genocídio que Roma impingiu aos
moradores de Jerusalém, tentavam obter desesperadamente uma resposta para tanto
sofrimento.
Esses primeiros cristãos tiveram que confrontar a sua incipiente fé com as diversas tendências religiosas que se apresentavam como solução da crise religiosa e como o único caminho de volta para o convívio da segurança que há em Deus. Marcos se esforçava para passar adiante o ensinamento que Jesus havia transmitido aos seus discípulos em situações que se assemelhavam bastante ao cotidiano temeroso e sem esperança em que vivia a sua comunidade. Como por exemplo, o confronto direto com o radicalismo dos seguidores de João Batista, que exultavam, vendo aquela inominável desgraça como uma resposta impiedosa de Deus, tal como prescrevia a pregação cataclísmica de seu mestre no deserto.
Esses primeiros cristãos tiveram que confrontar a sua incipiente fé com as diversas tendências religiosas que se apresentavam como solução da crise religiosa e como o único caminho de volta para o convívio da segurança que há em Deus. Marcos se esforçava para passar adiante o ensinamento que Jesus havia transmitido aos seus discípulos em situações que se assemelhavam bastante ao cotidiano temeroso e sem esperança em que vivia a sua comunidade. Como por exemplo, o confronto direto com o radicalismo dos seguidores de João Batista, que exultavam, vendo aquela inominável desgraça como uma resposta impiedosa de Deus, tal como prescrevia a pregação cataclísmica de seu mestre no deserto.
Outro confronto
semelhante e direto se dava também com os escribas e fariseus que, com o fim da
classe sacerdotal, assumiram de modo usurpador a liderança religiosa nas
sinagogas de todo o país. Logicamente que o ensino de Jesus nas relações
conflitantes com os sacerdotes judeus no passado recente, se aplicaria muito
bem como parâmetro de conduta para orientá-los nesse outro conflito, com a nova
cara do Judaísmo em Israel.
Mas ainda assim,
decorridos mais de quarenta anos da pregação viva de Jesus, seus ensinamentos
continuavam a ser atuais, e mais importante ainda, com autoridade, mesmo sendo
uma novidade radicalmente diferente de tudo que era até então conhecido. Fica
aqui a pergunta: para que nos tem servido essa autoridade?
O primeiro
capítulo do evangelho de Marcos não somente responde a essa pergunta, como
mostra, logo de saída, o que a igreja que pretende ser fiel a Jesus Cristo tem
que enfrentar com autoridade: homens perdidos na influência de espíritos
malignos, mulheres sem assistência médica, doentes com todos os tipos de
enfermidade, pessoas que procuravam uma religião de benefícios exclusivos.
Diante de males tão comuns a todos os tempos, a pregação de Jesus surge como
uma novidade, ou melhor, no entendimento do povo como uma nova doutrina.
Foi exatamente
esse povo humilde e carente que entendeu, até antes mesmo dos discípulos, que a
novidade que Jesus veio trazer é algo precisa ser associado à própria razão de
vive, e não somente entendido através da razão. Foi nesse sentido que Jesus
ordenou a grande comissão aos seus seguidores: batizai e fazei discípulos.
A doutrina já
temos, mas onde conseguir autoridade para anunciá-la? Certamente que ela não
nos virá através do distanciamento que estabelecemos com aqueles que não creem
ou com aqueles que creem de modo diferente. Jesus deixou claro que o lugar do
seu discípulo é no mundo, carregando os fardos uns dos outros. Com certeza não
nos virá através dos rituais que evocam a pré-história da nossa fé, e dos
objetos ritualísticos comuns a ela. Não virá também através de uma pregação
descompromissada com as reais necessidades do povo. Essa então sequer será
ouvida. Não vira das catedrais que erigimos em nome de um Deus que mais pediu
que uma única pedra fosse disposta em seu nome. Mas virá do deserto, quando a
igreja se sentir sozinha frente a um estado de coisas hostis que desafiarão a
sua própria sobrevivência. Virá da certeza de que nada mais é importante, a não
ser que essa nova doutrina seja divulgada. Como dizia John Wesley: nada fazer,
senão salvar almas.
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