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Texto do rev. Paulo Schütz.
Entra no teu quarto!
You can see it! I got it! Fala de um cego famoso, dentro de um carro esportivo de marca também famosa, em um comercial de TV. Literalmente: “Você, pode vê-lo! Eu, tenho ele!” As agências de publicidade sabem que as pessoas em geral se dispõem a comprar um produto motivadas mais pela admiração que provoca nos outros do que pela necessidade que tenham ou satisfação que possa proporcionar a elas mesmas. Essa preocupação costuma definir não só as compras que essa pessoas efetuam, mas todas suas escolhas que possam vir a ser alvo dos olhares de terceiros.
Isso pode explicar as atitudes dos que gostam de ser vistos pelos homens quando oram. A reação dos que observavam quem orava em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, proporcionando-lhes satisfação, não deve ser muito diferente dos que hoje assistem os que oram na TV, em tablados imensos, à luz de inúmeros potentes holofotes, com o auxílio de enormes caixas de som, baterias barulhentas e guitarras estridentes, utilizando as mais avançadas técnicas de comunicação em massa. A diferença é que em nossos dias os observadores se multiplicaram por milhões, os imitadores também, de modo que a recompensa que recebem aumentou em igual proporção, principalmente porque, além do mais, isso lhes rende muito dinheiro.
De vez em quando a imprensa divulga em ordem de grandeza o esplendor da recompensa que ostentam tais servos de Deus, como se referem a si próprios, em forma de quantidade de discos vendidos, número de shows realizados e espectadores, valor de suas mansões, seus carros, etc. Se é isso é tudo que você deseja nesta vida, é só seguir os seus passos. Pode ser que você não consiga as maiores recompensas, porque as vagas são muito limitadas neste clube seleto, mas é possível que, como muitos que tentaram, depois de algum tempo, você consiga comprar um carro velho para colocar o adesivo FOI DEUS QUE ME DEU.
Entretanto, se você não almeja nada menos do que o reino preparado por Deus para você desde a fundação do mundo, siga o conselho de Jesus: entre no seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que o espera em secreto. Siga o exemplo de Nicodemos, que procurou Jesus a sós, à noite, longe dos holofotes e do burburinho das controvérsias públicas orquestradas por seus colegas fariseus, e lhe segredou “sabemos que és mestre vindo da parte de Deus”. Do diálogo iniciado com essa confissão, nasceu uma nova criatura que, mais tarde, ousaria repreender os seus pares que buscavam prender o mestre: “Acaso nossa lei julga um homem sem primeiro ouvi-lo e saber o que ele fez?”. A recompensa foi ser tratado pelos poderosos com a mesmo desprezo que dispensavam a seu mestre.
Não posso concluir estas reflexões sem pensar naqueles e naquelas cujos quartos nem têm portas, pois são simples cômodos que abrigam várias pessoas, nos quais, além de dormir, realizam atividades diversas, como se alimentar, assistir televisão, ouvir música, jogar vídeo game, fazer os deveres escolares, costurar, pintar as unhas, etc. Essas têm pelo menos a vantagem de não necessitarem imitar o mestre, uma vez que este já se fez como elas, pois nem tinha onde reclinar a cabeça. Entretanto, isso não impedia de ter seus particulares com o Pai, no monte, num lugar deserto ou apenas solitário. Mas você costuma estar sozinho também em coletivos lotados, em salas de espera, em filas... Basta abrir os olhos da fé e você verá o Pai ao seu lado. Então, apenas diga: Foi bom encontrá-lo. O resto será fácil.
Referências bíblicas:
Mateus 3.1-2; 7.50-52; 14.23; Marcos 1.35; Lucas 5.15-16; 6.12.
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