O que o Primeiro Testamento faz é confirmar que o legalismo judeu em que o fariseu Paulo foi educado, julgava, sem consegui-lo, tender em direção a um tipo de justificação. Uma vez que a Lei é a expressão da vontade de Deus, e que a Lei está ao alcance do homem, na realidade, ao alcance da sua inteligência, pois é inteligível e fácil de conhecer, bastaria ao homem observá-la integralmente para poder apresentar-se diante de Deus e ser justificado. O erro do fariseu não está no seu sonho de poder tratar Deus segundo a justiça, como este bem o merece, mas sim na ilusão de pretender chegar a isso por seus próprios meios, de querer obter de si próprio a atitude que satisfaça a Deus e que ele espera de nós.
Essa perversão essencial do coração que quer ter o direito de se gloriar diante de Deus, se traduz num erro fundamental na interpretação da Aliança, que dissocia a Lei e as promessas, que vê na Lei o meio de ser justo diante de Deus e esquece que essa própria fidelidade só pode ser obra de Deus em cumprimento da sua Palavra.
Essa perversão essencial do coração que quer ter o direito de se gloriar diante de Deus, se traduz num erro fundamental na interpretação da Aliança, que dissocia a Lei e as promessas, que vê na Lei o meio de ser justo diante de Deus e esquece que essa própria fidelidade só pode ser obra de Deus em cumprimento da sua Palavra.
Jesus Cristo.
Ora, Jesus Cristo foi realmente “o Justo”. Foi diante de Deus exatamente aquilo que este esperava: o servo em quem o Pai pôde enfim comprazer-se. Ele soube até o fim cumprir toda a justiça e morreu para que Deus fosse glorificado, isto é, aparecesse diante do mundo com toda sua grandeza e seu mérito, digno de todos os sacrifícios e capaz de ser amado mais que tudo. Nessa morte, que pareceu a de um amaldiçoado, Jesus encontrou na realidade a sua justificação, o reconhecimento por Deus da obra realizada, que este proclamou ressuscitando-o e pondo-o na plena posse do Espírito Santo: l Tm 3,16 - Evidentemente, grande é o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória.
A graça.
Mas a ressurreição de Jesus Cristo tem por fim a nossa justificação. Aquilo que a Lei não podia operar, pelo contrário, mostrava o homem como categoricamente excluído, a graça de Deus, na Redenção de Cristo, nos dá como um dom. Esse dom não é uma mera condescendência pela qual Deus, vendo seu Filho único perfeitamente justificado diante dele, aceitasse considerar-nos como justificados, por causa de nossas vinculações com ele. Para designar um simples veredito de graça e absolvição Paulo não teria empregado o termo justificação, que, pelo contrário, significa o reconhecimento positivo do direito posto em questão, a confirmação da justeza da posição tomada. Ele não teria atribuído à justiça de Deus, e sim à sua misericórdia, o gesto pelo qual ele nos justifica. Ora, a verdade é que Deus, em Cristo, quis mostrar a sua justiça, a fim de ser justo e de justificar aquele que se baseia na fé em Jesus.
Filhos de Deus.
Sua justiça, Deus evidentemente a manifesta primeiramente para com seu Filho entregue por nossas culpas, e que, por sua obediência e sua justiça, mereceu para uma multidão a justificação e a justiça. Mas o fato de que Deus conceda a Jesus Cristo merecer nossa justificação não significa apenas que ele consente, em atenção a ele, em nos tratar como justos. Significa que Deus em Jesus Cristo nos torna capazes de tomar a atitude exata que ele de nós espera, de tratá-lo como ele merece, de render-lhe efetivamente a justiça a que ele tem direito, numa palavra, de sermos realmente justificados diante dele. Assim Deus é justo para consigo mesmo, não rebaixando nada da honra e da glória às quais tem direito, e é justo para com suas criaturas, às quais ele concede, por pura graça, mas por uma graça que as atinge no seu mais profundo âmago, achar para com ele a atitude mais justa, tratá-lo como o que ele é, o Pai, isto é, ser realmente seus filhos.
Justificados pela fé
Essa regeneração interior pela qual Deus nos justifica não é uma transformação mágica. Realiza-se realmente em nós, em nossos gestos e em nossas reações, mas despojando-nos do apego a nós mesmos, de nossa própria glória, ligando-nos a Jesus Cristo na fé. Crer em Jesus Cristo é reconhecer nele Aquele que o Pai enviou, é aderir às suas palavras, é arriscar tudo por seu Reino. É aceitar a perda de tudo a fim de ganhar Cristo, sacrificar a sua própria justiça, a que vem da Lei, para receber a justiça que vem de Deus e se baseia na fé. Crer em Jesus Cristo é reconhecer o amor que Deus tem por nós e confessar que Deus é Amor, é atingi-lo no âmago do seu mistério, é ser justo.
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