Jesus e os doutores do templo, Heinrich Hofmann |
Aquele que voluntariamente entra para a escola de um mestre
partilhando as suas ideias é um discípulo. Essa palavra, que é quase ausente Primeiro
Testamento, é empregada correntemente no judaísmo tardio, levando a seu termo
uma tradição bíblica que pode ser encontrada igualmente no Segundo Testamento
com o nome grego mathetes, mas com o
sentido todo original que somente Jesus lhe dá.
No Primeiro
Testamento
Discípulos dos profetas e dos sábios.
De tempos em tempos a Bíblia assinala que Eliseu se ligou a
Elias, ou que um grupo de fervorosos discípulos rodeia Isaías, recebendo em
depósito o seu testemunho e a sua revelação: Is 8.16 -Resguarda o testemunho, sela a lei no coração dos meus discípulos.
Mais habitualmente, os sábios têm discípulos, a quem chamam seus filhos, aos
quais inculcam os ensinamentos tradicionais: Pv 3.1-2 - Filho meu, não te esqueças dos meus ensinos, e o teu coração guarde
os meus mandamentos; porque eles aumentarão os teus dias e te acrescentarão
anos de vida e paz. Mas ainda assim, nem profetas nem sábios ousariam através
do seu ensinamento modificar a Palavra de Deus, pois, é somente nela, e não nas
tradições ou no ensino do mestre a discípulo, que está baseada a Aliança.
Discípulos de Deus.
Uma vez que a Palavra divina é a fonte de toda sabedoria, torna-se
preponderante não se prender a um mestre humano e sim tentar de todas as
maneiras ser discípulo do próprio Deus. A Sabedoria divina personificada chama
assim os homens a ouvi-la e a seguir as suas lições: Pv 8.32 - Agora, pois, filhos, ouvi-me, porque felizes
serão os que guardarem os meus caminhos. Os oráculos escatológicos enfim
anunciam que nos últimos tempos Deus irá fazer-se ele próprio o mestre dos
corações: ninguém mais terá precisão de
mestres termos, mas todos serão discípulos de Iahweh. Por isso, o
próprio Servo de Iahweh está encarregado de ensinar as prescrições divinas: Is
42.1 - Eis aqui o meu servo, a quem
sustenho; o meu escolhido, em quem a minha alma se compraz; pus sobre ele o meu
Espírito, e ele promulgará o direito para os gentios. Deus, a cada manhã lhe
abre os ouvidos e lhe dá uma língua de discípulo: Is 50.4 - O SENHOR Deus me deu língua de eruditos,
para que eu saiba dizer boa palavra ao cansado. Ele me desperta todas as
manhãs, desperta-me o ouvido para que eu ouça como os eruditos. Fiel a essa
profecia, o salmista suplicará sem cessar: Senhor,
ensina-me!
Mestres e discípulos no judaísmo.
No retorno do exílio, tornando-se a Lei o objeto básico do
ensinamento, os mestres que ficaram encarregados dessa instituição fundamental,
por conta disso, passam a ser conhecidos como os doutores da lei. No entanto, a
autoridade da Palavra de Deus que eles comentam passa, pouco a pouco, a se
juntar à sua própria autoridade pessoal: Mt 23.2-3 - Na cadeira de Moisés, se assentaram os escribas e os fariseus. Fazei e
guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas
obras; porque dizem e não fazem, sobretudo quando transmitem a tradição
que eles próprios receberam dos seus mestres. No tempo do Segundo Testamento,
Paulo lembra que ele próprio foi discípulo de Gamaliel. O judaísmo pós-bíblico
se organizará baseando-se nesse talmud
(“ensinamento"). (continua)
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