Morte de Moisés, www.dibujosbiblicos.net |
Texto do rev. Jonas Rezende.
Pois bem, o que você acha que Salomão pediu? Errou, se supôs que solicitou palácios, tesouros, prestígio e poder. Porque ele tão somente quis de Deus conhecimento e sabedoria.
O salmo 90 é o registro de uma oração de Moisés, única página no Saltério desse homem que plasmou e conduziu o povo de Israel em sua fuga da escravidão egípcia e na busca de uma terra de liberdade, onde se organizasse como nação.
Leia com atenção todo o salmo. É o relato da vida humana: sua fragilidade e, ao mesmo tempo, o imenso potencial que traz em si. Depois de dizer que tudo passa rapidamente e nós voamos, o salmista reconhece também que o trabalho bem-intencionado produz marcas luminosas que poderão permanecer no caminho que percorrermos. Por isso, no final da prece, suplica de Deus um favor muito especial, capaz de mudar o tom sombrio de boa parte dessa página poética: confirma, implora, a obra de nossas mãos, sim, confirma as obras de nossas mãos. Mas, veja bem. No momento mais alto de sua oração, Moisés expressa o mesmo desejo do rei Salomão: quer valorizar as oportunidades da vida, com um coração sábio.
Ninguém precisa, na verdade, que lhe ensinem a respeito dos problemas da existência, mas é sempre bom saber que não estamos sozinhos em nossa dor. Talvez por isso as palavras do russo Maiakovski encontrem profundo eco em nosso espírito. Diz o poeta: morrer não é difícil, o difícil é a vida e o seu ofício.
Há um traço de amargura nessa afirmação, como também sentimos no salmo de Moisés. Mas assim como o resumo do salmo não é a melancolia. Maiakovski também nos surpreende com uma saída que ele mesmo não conseguiu usar em sua existência: minha anatomia enlouqueceu; sou todo coração.
É isso, a vida é difícil frágil e provisória, mas é também bela, se dermos aos nossos gestos a verdadeira dimensão do amor e da ternura; se estamos prontos para sorver com emoção as oportunidades. Porque a sabedoria do amor produz as obras que o Senhor confirma com a sua graça, como o salmo nos promete.
Hermann Broch, em seu livro A morte de Virgílio, fala do grande poeta interessado, até o fim da existência, no que acontece debaixo da sua janela. E o Virgílio de Broch nos ensina a sorver com garra e gana todas as expressões de beleza que a vida nos oferece, mesmo quando a candeia vai apagar a qualquer momento. Porque o poeta ultrapassa o ditado popular. Mesmo morrendo, ele ainda aprende, já que a alma está aberta para o amor.
O neurobiólogo chileno Humberto Maturana instrui em nome da Ciência: o motor do conhecimento é a paixão.
Você já usou esse motor em sua vida?
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