Ressureição, autor desconhecido |
Texto de João Wesley Dornellas.
O mistério da encarnação desabrocha no mistério da sexta
feira santa e da Páscoa. Precisamos vê-las conjuntamente. Há duas ideias que
não podem ser dissociadas. Os protestantes e católicos acabam dando muita
ênfase na teologia da cruz: “foi entregue por nossas transgressões”. Os
ortodoxos, por sua vez, enfatizam mais a teologia da glorificação: “ressuscitou
para nossa justificação”. Ambas as ênfase, que devem ser entendidas juntas,
estão baseadas em Romanos 4.25: “(Jesus) o qual foi entregue por nossas
transgressões e ressuscitou por causa de nossa justificação”. Por isto, a
ressurreição de Jesus não é meramente um fato histórico, real, mas um julgamento
de Deus que, agora, atinge qualquer pessoa humana.
O que Deus fez ressuscitando Jesus, fê-lo por todos nós, para nossa salvação. P. Bonnard nos diz que “a ressurreição de Jesus expressa, pois a vontade particular de Deus que, tendo aniquilado o homem pecador, chama-o agora milagrosamente a uma nova vida. Pela sua ressurreição, somos restituídos à vida, desde agora”.
O que Deus fez ressuscitando Jesus, fê-lo por todos nós, para nossa salvação. P. Bonnard nos diz que “a ressurreição de Jesus expressa, pois a vontade particular de Deus que, tendo aniquilado o homem pecador, chama-o agora milagrosamente a uma nova vida. Pela sua ressurreição, somos restituídos à vida, desde agora”.
Não há teologia da cruz sem o complemento natural – a
teologia da glorificação. Ou seja, não há Páscoas sem sexta-feira santa e não há
sexta-feira santa sem Páscoa. É fácil encher o cristianismo de tribulação e
angústia. Mas se a cruz é a cruz de Jesus e não uma especulação a respeito da
cruz, que qualquer um pode fazer, não se pode esquecer que o crucificado
levantou-se dos mortos no terceiro dia.
O ponto crucial da cristologia tem sido discutido debaixo de
suas conceituações: a humilhação e a exaltação de Cristo. A humilhação inclui,
como nos diz o Credo dos Apóstolos, “padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi
crucificado, morto e sepultado”. A cruz, para qualquer um, seria humilhação e
abandono. Mas o que dá significado à humilhação é o fato de que esse homem,
Jesus, é o filho de Deus, que não é outro senão Deus mesmo, que se humilha e se
entrega a si mesmo nele.
Quando tudo é completado pela exaltação de Cristo no
mistério da Páscoa, essa glorificação é certamente a glorificação do próprio
Pai. É a sua honra que triunfa ali. Mas o verdadeiro mistério da Páscoa é que o
homem é exaltado, colocado à mão direita de Deus para triunfar sobre o pecado e
a morte.
5 - Quem, afinal de contas, foi julgado?
O relato histórico nos conta que Jesus, com diversas
acusações tolas feitas por Anás e Caifás, era o culpado. Por isto, foi julgado
e condenado. Tudo muito injusto, é claro.
O que houve, no entanto, foi uma substituição. O pano de
fundo é a reconciliação do homem com Deus, que se realiza com Deus colocando-se
a si mesmo no lugar do homem e o homem sendo colocado no lugar de Deus – um ato
da graça divina. Esse milagre inconcebível é a nossa reconciliação.
Na crucificação, Deus toma sobre si aquilo que é merecido
pelo homem. Se Deus não agisse assim, a criatura seria destruída pelo pecado.
Deus não deseja isto para o homem. Ao contrário, Deus quer que o homem se
salve. Só a entrega de Deus a si próprio é suficiente para salvar o homem. A
reconciliação significa Deus tomando o lugar do homem.
Na morte de Jesus, Deus cumpriu a sua lei. Deus agiu como
juiz em relação ao homem. No julgamento, o homem é condenado, mas Deus se
coloca em seu lugar. É o que fala Paulo: “ele foi entregue por nossas
transgressões”.
Nesse processo, o julgamento de Deus é executado e a lei de
Deus é aplicada. Mas o que o homem deveria sofrer, é Cristo quem sofre. Eis
porque Jesus Cristo é o Senhor, pois se coloca no nosso lugar diante de Deus,
tomando sobre si mesmo o que pertenceria a nós. Nele, Deus se torna fiador, por
aquilo que somos de amaldiçoados, culpados e perdidos. Dessa maneira, Jesus dá
fim à maldição. Não é da vontade de Deus que o homem pereça; não é da vontade
de Deus que o homem pague o que deveria pagar. Em outras palavras, Deus extirpa
o pecado. É isto que Deus faz: determina o castigo, mas toma o lugar do
culpado. A justiça de Deus não se choca com sua misericórdia e seu amor. Isto é
graça. Este é o mistério da sexta-feira santa.
Por isto, temos que ir além da sexta-feira santa. Não somos
mais considerados por Deus como pecadores que precisam passar pelo julgamento
de suas culpas. Nada mais temos a pagar. Somos libertados pela graça, pelo fato
de Deus se ter colocado no banco dos réus por nós e sofrido o castigo. Como diz
Paulo em Colossenses 1.22, agora que fomos reconciliados no corpo de sua carne,
mediante a sua morte, podemos nos apresentar perante Ele como santos,
inculpáveis e irrepreensíveis. (continua)
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