Quem aponta ou o que aponta?

Oferta da viúva pobre, jesusmafa
Estando Jesus a observar, viu os ricos lançarem suas ofertas no gazofilácio. Viu também certa viúva pobre lançar ali duas pequenas moedas; e disse: Verdadeiramente, vos digo que esta viúva pobre deu mais do que todos. Falavam alguns a respeito do templo, como estava ornado de belas pedras e de dádivas. Lucas 21.1-3 e 5.

Basicamente as religiões mais confessadas no mundo de hoje têm como fundamento a valorização e a promoção humana acima de muitos outros aspectos que muitos julgam primordiais. Sem esse aspecto, poucas seriam as pessoas que se interessariam por ela. Porém, é bem sabido que este princípio básico tende arrefecer na razão direta da popularização desta religião e do seu tempo em vigência. Isso porque, assim como qualquer ser humano, seus fiéis vivenciam situações que os levam do sétimo céu ao quinto dos infernos periodicamente. Mas este, infelizmente, não é o único fator dessa mudança de comportamento.


Podemos dizer também que quando a prática que se coloca distante do discurso se torna mais um desses fatores. Para usar uma linguagem mais apropriada ao mundo cristão, o indivíduo crê pela fé, mas age pela razão. A igreja de Jesus Cristo de hoje é um bom exemplo disso, pois, se por um lado acredita-se que a volta é iminente para muito breve, por outro faz-se também planejamentos para cinco, dez e às veze vinte anos. Qual seria o componente errado nessa atitude, a fé ou a razão? Eu não saberia responder levando em conta apenas os elementos apresentados. Por isso gostaria de voltar ao princípio básico da fé no que diz respeito à promoção e à valorização do ser humano.

Em primeiro lugar, podemos observar que, seja qual for a religião, aqueles que lhe são realmente fiéis não mudam facilmente de opinião, a não ser que sejam convenientemente doutrinados para fazê-lo. Não falo aqui dos oportunistas nem dos carreristas, porque estes têm conveniências e motivações próprias. Falo das pessoas que sincera e honestamente professam a sua fé em um ser ou em uma consciência que julgam ser mais elevados do que eles. Podemos observar também que essas pessoas que tendem a substituir os objetivos primordiais da sua fé por outros, não o fazem necessariamente por estes serem mais simples ou mais cômodos. Pelo contrário, via de regra, pois eles se apresentam ser bem mais complexos, exigindo deles uma desafiadora aventura por caminhos que extrapolam e até contradizem os princípios pelos quais a sua fé tem se pautado ao longo dos séculos.


Normalmente o que leva essas pessoas às mudanças não são reflexões profundas e bem fundamentadas do conceito original da religião. Isso sempre vem da parte de um iluminado que consegue atrair pelo seu carisma, pessoas para sua maneira de ver e viver a fé. Como se trata de uma experiência individual não comprovada, os resultados são, na maioria das vezes, desastrosos e prejudiciais à fé, provocando um devastador retrocesso religioso. Não podemos deixar de considerar aqueles que transtornaram positivamente a sua fé. Contudo, há de se constatar que seus fundamentos não são originais e muito menos inéditos, pois são justamente esses que buscaram a razão para a mudança nos primórdios da sua religião, e não nos atrativos caminhos da mudança simplesmente pela mudança.

No texto acima, Jesus está chamando a atenção para as diferentes atitudes de fé, e como elas podem indicar o real significado que o princípio religioso tem para cada uma daquelas pessoas. Uns devotavam até boa parte dos seus bens em razão da sua credibilidade, enquanto que a viúva, como complementa o texto, deu absolutamente tudo que possuía. Contudo, com estranheza observamos que, fosse qual fosse a atitude apontada como por ele como correta, ela não estava dizendo absolutamente nada para as pessoas que estavam à sua volta, pois o atrativo delas era a grandiosidade do templo. O fundamento da peregrinação anual ao templo era a renovação da aliança com Deus e com os objetivos da fé judaica, os quais deveriam ser orientados por leis justas e humanitárias ditadas pelo seu livro sagrado. O templo era apenas mais uma consequência dessa fidelidade, mas estava erradamente sendo colocado em primeiro plano, porque alguém, em algum momento julgou ser mais importante que a fé se expressasse através de um monumento do que de uma mudança de vida. (continua)

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