Última ceia, Jacopo Bassano em 1542 |
Amor romântico
Acho até que Deus perdoa
A oração contaminada:
- Senhor, só penso em casar,
pois me
queimo de paixão,
faço só
uma exigência
quero me
casar com Hortência
ajuda-me
santa paciência,
porque
sempre tens razão.
Todos cantam: no céu, na
terra
Aonde for viverá tão grande
amor...
S. Paulo já se cansou de
emprestar
O seu poema.
Desta vez, foi à calçada
Encontrar Renato Russo.
E ele trouxe o poema já musicado
No gosto da moçada, um achado!
O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O
amor jamais acaba.
Estou morto de paixão,
Doente do coração.
Como na história infantil
Em que a moça inventa sonhos
Mil e uma noites seguidas:
Ganha tempo e salva a vida.
Com meus sonhos de loucura
Por ti, ó delicada mulher,
Nossa existência se faz
O mais belo dos paraísos,
Ó razão dos meus sorrisos.
No banco da mais bela vista
Nossa conta e poupança
Crescem e se engrandecem
E posso dar-te, ó santinha minha,
Por teres os dentes do ciso,
Tudo, tudo que eu preciso...
Encontrei-te numa igreja mui graciosa
Tão bela és, mas surtas a toa,
De uma hora para outra!
Diferente dessa nobreza toda
Que, no fundo, nos despreza
Não te importes,
Ó minha batata baroa,
Pois és mulher
De que ninguém nunca enjoa.
Mas a igreja do pastor Pompílio
Investigava tua vida
De maneira desonesta e não amiga.
Tempo todo comentava
O teu dinheiro
Que faria templos contra
O mal e o diabo
Pelo mundo inteiro
Testemunhando
A nossa vitória:
- Oh glória!
O celebrante nos olhou
Do altar
E falou-me:
- Cabra da peste
que
já estiveste aloprado
e
vivias reprimido, amuado...
O pastor vestia uma casaca gigantesca
E falava como um pinguim
Muito posudo e
besta:
- Irmão, qualquer outra seita te aceita.
Ele disse, vendendo-se caro
E me rifando sem respeito,
Mas se arrependeu ao notar
Minha cara contrafeita
Parecendo lobisomem
E o nariz que logo ficou de
Coloração vermelho pimentão
De cliente raro que escafederia
Se ele não mudasse o tom.
O pastor parou de me ofender
Mas começou a criticar minha noiva:
- Aonde vai o ferro
a
ferrugem satisfeita vai também..
Põe
psiquiatra para dar um
jeito
na mulher.
O doutor
tira o defeito.
não temas
nem tremas
como se
estivesses
com a
malfadada maleita,
tua
demência ficará mais que perfeita.
A noiva por certo já está aceita
E a lua de mel
Será feita num bom hotel
De Belém, no exterior.
Com tudo o que a noiva tem.
E agora vai ser nosso também!
A igreja bateu palmas e gritou:
- Amém!
E eu, peregrino na igreja
Gritei mais alto: assim seja!
- aceitas mesmo o assim seja?
Como hipnotizado,
Resolvi aceitar o mal
Transmitido por aquele boçal
E debochar também
De sua igreja
E seu balcão comercial, falei:
- Primeiro, aceito pastor
nada
que não seja
uma
geladíssima
cerveja.
A mãe ricassa da
noiva
Fez almoço para todos
Os que a adulavam
Como seus serviçais:
- Vinde todos porque sois
nossos
irmãos
e
filhos do mesmo pai.
E eis a família fajuta
Que se acredita impoluta...
No almoço (ou banquete?)
Fazendo-se também de tapete!
E eu, hipnotizado não passava
De um enfeite!
Pedi a mão da Senhora
Dona mocinha
Ajoelhado e a chorar,
Tão formosa essa donzela,
Mas me disse o Zé Cadela
Que depois da mão viria
Em seguida, logo ela.
Fiquei muito arrependido
Por abrir tal concessão
Que infelizmente fizera
Sem ouvir o Zé Cadela
Que conhecia a família.
E que intrigante não era.
Os anjos do além
Desta vez
Calaram o amem!
e, sozinhos, disse depois à amada:
- No meu tempo de pagão
nunca desmaiei na mesa
nem mesmo de cirurgia
ou no túnel de tomografia.
mas hoje me ergui em alvoroço
desaforado da mesa do almoço
e nem sei porque ainda à mesa
pedi meu troco pouco em cerveja.
A noiva me ouvia
Com expressão patética e vazia.
E eu lhe perguntei:
- Surtaste outra vez, minha filhinha?
ficaste
louca de vez, ó pombinha?
Será que existe na terra
Amor mais apaixonado?
Tão doce quanto salgado
Qual lágrima ou leite de mãe,
O nosso maior legado?
Para ficar à vontade
Com tanto louco ao meu lado,
Só mesmo hipnotizado...
Sorri de um pensamento vadio
E totalmente improvisado:
Sou mesmo o cara
Ou espero outro mais
Rodado?
Amor fraterno
É o amor entre os irmãos
Seres humanos vestidos
Da pele na mesma família.
Ou ainda que sejam clonados,
Nada pode garantir o amor pascal.
Se o homem perde o sentido de moral.
A revolução francesa aprendeu
Não existir lei que obrigue
A fazer isto,
Mas basta imitar São Francisco
Ou seguir a Jesus Cristo.
Irmão de alguém
É quem de alguém
Irmão se sente.
O sangue não é
Garantia absoluta
Para os laços
Fraternais
Que nos mostrem
O ‘algo’ mais
E não só competidores
A um passo do conflito,
Da luta durante
A diária labuta.
É irmão quem sente
A mesma paixão,
E emoção,
E busca uma igual voltagem
Que impõe fraternidade.
E arrebatamento
Pela vermelha
E aveludada rosa.
Bom exemplo:
Os amantes da formosa
Escola de Samba Mangueira,
A querida verde e rosa.
É isto, mas não é só isto.
Em toda a peleja,
Que é longa e sofrida
(que seja! Que seja!)
É paixão
Com todo tipo de conotação.
Alguns santos da reforma
E outros seguindo Loiola
Só descansavam
Em separadas gaiolas
E aceitavam nova peleja
Se elas desafiassem a fé
E fossem refrescadas com cerveja..
Alguns nunca chegarão
A ser irmãos
Pois se revelam narcisos
Que adoram a si mesmos
Em espetáculo lamentável
De querer mais que o preciso.
Brigam por miserável
Formal de partilha
Até parece mentira
Desta gente que pira:
- o canário é meu!
- tu sabes que em vida
foi o pai quem mo deu.
e ser tão mesquinho assim
nem mesmo nosso pai seria...
- foi disto que tu o xingaste, mesquinho!
e ter perdão, não terias
Na galeria dos famosos irmãos
Encontraremos os príncipes
Máscara de ferro
Mas também
Os irmãos corsos.
São exemplos
Que depois de tanto tempo,
Tempo demais,
Nem adianta falar mais!
Tu entendeste.
A regra somos nós:
Fora isto, não resta nada,
Ou melhor, só nos sobra
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