Páscoa no Monte gerezin, www.demotix.com |
Os samaritanos hoje celebram a Páscoa no dia 13 de Nisan, no monte santo Gerezim. Ao pôr do sol matam algumas ovelhas, e as assam inteiras; a carne é comida às pressas, antes da manhã, com ervas amargas e pães ázimos; todos têm os rins cingidos, sandálias nos pés e o cajado na mão. Põe-se sangue nas tendas, armadas para a festa.
Na Páscoa judaica o cordeiro pascal era morto no dia 14 de Nisan, mas comido depois do pôr do sol; portanto, para os judeus, nas primeiras horas do dia 15 de Nisan. No dia 15 começava a festa dos ázimos, macsõt, que durava sete dias. O pão levedado e o fermento não podiam ficar em saca, eles deveriam fazer uma reunião de caráter religioso no sétimo dia, conforme Dt 16.8. No primeiro e no sétimo dias fica proibido qualquer trabalho. O Lv 23.8 prescreve que todos os dias seja oferecido um holocausto. Nm 28.19-24 o descreve com detalhes, mas Ez 45.21-24 as contraria radicalmente.
Esta festa é uma comemoração da libertação do Egito, e os os ritos apressados da festa explicam como os israelitas saíram daquele país, pressa que os obrigou a usar a massa que estava na masseira, antes que pudesse levedar. O Dt 16.3 chama o pão ázimo de pão da miséria, porque lembra a escravidão do Egito. Êx 23.15 menciona a festa dos ázimos como a primeira das três grandes festas em que todo israelita tinha a obrigação de fazer uma romaria ao santuário. Assim como as outras duas festa, a dos Tabernáculos e de Pentecostes, esta também é típica dos agricultores sedentários, é provável que também a Páscoa tenha originariamente estado em relação com a agricultura. Isso é sugerido Dt 16.9, pois a data da festa é calculada a partir do dia em que se mete a foice na seara. Durante a colheita dos cereais comia-se pão ázimo, e grãos torrados da nova safra. E’ provável, portanto, que a festa dos ázimos tenha sido originariamente a festa das primícias da colheita da cevada. Por isso é que Lv 23.9-14 prescreve que no dia depois do sábado, na semana dos ázimos, conforme uma interpretação no dia 16 de Nisan, se leve ao sacerdote o primeiro feixe da nova colheita.
A maior parte dos críticos é de opinião que a Páscoa foi uma festa pastoril muito antiga, celebrada pelos israelitas desde antes de Moisés, combinada mais tarde com a festa dos ázimos, que os cananeus celebravam no princípio da colheita. Quando Israel passou a habitar em Canaã, tornou-se um povo agrícola. A combinação das duas festas teria sido relacionada posteriormente com o Êxodo do Egito, sendo os ritos da festa explicados pelas lendas cultuais. Como foi dito anteriormente, ainda se discute muito a respeito do sentido original dos ritos da festa. Outros pensam que de origem a Páscoa foi a festa das primícias de um povo de pastores, que no começo da primavera oferecia as primícias do rebanho à divindade, fonte de fertilidade. Para poderem celebrar essa festa no deserto, os israelitas teriam querido sair do Egito com seus rebanhos, como descreve Êx 3.18 e 7.16.
O sacrifício teria sido oferecido ao deus lunar, de noite e com lua cheia, por volta do equinócio da primavera. Outros explicam o sacrifício como um rito expiatório: pelo sangue, posto nas ombreiras da porta, queriam reconciliar-se com o deus da casa; tais sacrifícios eram oferecidos na Índia, na Pérsia e no Egito por volta do equinócio da primavera. Outros, afinal, consideram a Páscoa como festa de renovação de uma aliança confirmada por sangue. Contudo, essas explicações não passam de hipóteses. No entanto, um exame crítico de todos os textos mostra que o sentido e os ritos da Páscoa passaram por uma grande evolução. O rito com o sangue, adotado pela Lei Mosaica, ainda está em uso entre os árabes e outros povos, tem a finalidade de afastar do rebanho ou da casa os demônios ou as pragas. A lei judaica, porém, não lhe atribui mais uma eficácia mágica, pois tudo está subordinado a Iahweh, como citado em Êx 13.3, 8 e 9. A prescrição de assar o cordeiro inteirinho lembra também costumes nômades. Merece, portanto, ser considerada seriamente a opinião conforme a qual a religião mosaica, aqui como em muitos outros casos, lançou mão de tradições universalmente semíticas, adaptando-as à pregação do decisivo ato salvífico de Deus, o Êxodo do Egito. (continua)
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